Mali: eleições num país ocupado

Carlos Lopes Pereira

Chegou há dias a Bamako uma unidade de infantaria estónia com o objectivo de se juntar à Operação Barkhane, comandada pela França, na sua «missão anti-terrorista» no Mali.

Os cerca de 50 soldados bálticos vão garantir a segurança de uma base militar francesa na cidade maliana de Gao, no Norte do país africano. O destacamento permanecerá ali durante um ano e de quatro em quatro meses será refrescado com novas tropas.

À partida de Tallin dos expedicionários, o chefe do estado-maior do exército da Estónia, general Martin Herem, explicou a importância da missão para o seu país, membro da NATO: «A nossa segurança está ligada aos problemas que enfrentam os nossos aliados e por isso é importante que possamos ajudá-los aonde seja necessário».

A presença de tropas estónias no Mali é apenas mais um exemplo da ocupação militar estrangeira do país oeste-africano, desde há cinco anos.

A França, antiga potência colonial, mantém actualmente a Operação Barkhane com o objectivo de «apoiar o governo do Mali na sua luta contra os terroristas», assim como travar o tráfico ilegal de pessoas para a Europa. A missão teve início em meados de 2014 – antes, no início de 2013, Paris interveio militarmente para conter o avanço dos independentistas tuaregues – e integra três mil soldados, com o comando regional em N’Djamena, capital do Chade.

Mas há mais tropas estrangeiras em território maliano: a Minusma (Missão Multidimensional das Nações Unidas para a Estabilização do Mali), com mais de 15 mil efectivos, e o G5 Sahel, com cinco mil soldados, a força conjunta de cinco países sahelianos constituída, financiada e armada pelos Estados Unidos, União Europeia e aliados como a Arábia Saudita.

Apesar deste enorme dispositivo securitário, nos primeiros seis meses de 2018 o Mali assistiu a um aumento de acções bélicas atribuídas a dois grupos ligados à Al-Qaida. Entre Janeiro e Julho deste ano, o número de ataques com engenhos explosivos improvisados duplicou em relação ao mesmo período de 2017.

As Nações Unidas já manifestaram a sua «preocupação» pela deterioração das condições de segurança no Mali, em especial no centro do país. A situação é caracterizada por mais ataques contra as tropas malianas, do G5 Sahel e da Minusma, que causam «um número excepcional» de vítimas civis e, também, pelo incremento dos conflitos inter-comunitários.

«Ditadura da fraude»

Foi neste contexto que se realizou, no domingo, 12, a segunda volta das eleições presidenciais, disputada entre o presidente cessante, Ibrahim Bubakar Keita, e o líder oposicionista Soumaila Cissé.

Como se esperava, a votação, tal como acontecera na primeira volta, decorreu com baixíssima participação e repleta de incidentes – assaltos a assembleias de votos, violação de urnas e irregularidades várias –, apesar do forte dispositivo de segurança montado.

Na primeira volta, a 29 de Julho, em que concorreram duas dezenas de candidatos, Keita obteve quase 42 por cento dos votos e Cissé cerca de 18 por cento.

Agora, dois dias após o escrutínio e antes mesmo de se conhecerem os resultados eleitorais finais – há poucas dúvidas de que Keita será reeleito –, Cissé declarou que não os aceitará, acusou o governo de «ditadura da fraude» e apelou «a todos os malianos» a que se levantem e lutem para mudar a situação no país.




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