Perder o comboio da informação
Como os leitores do Avante! se terão apercebido, os deputados do PCP no Parlamento Europeu estiveram a 18 e 19 de Julho no distrito de Leiria, onde realizaram 25 iniciativas. No entanto, quem não leu a edição dessa semana apenas terá ficado a saber, quanto muito, que um deputado comunista tentou apanhar um comboio nas Caldas da Rainha mas, como tem sido costume por aquelas paragens, só tinha um autocarro à disposição. A única referência surgiu no Público, numa notícia em que primeiro se dava conta de que, no dia seguinte, deputados do PS tentariam andar na linha do Oeste e em que não há uma única linha com declarações de João Ferreira.
Ignorar ostensivamente a acção dos deputados do PCP no Parlamento Europeu tem sido o tratamento habitual da comunicação social nacional face ao muito trabalho realizado pelo País. Como referimos há uns meses nesta coluna, na primeira metade deste mandato realizaram centenas de actividades, por todo o País: contactos com trabalhadores de sectores estratégicos e com pequenos produtores, acções de solidariedade, debates em escolas ou encontros com refugiados. O resultado mediático foi, como então referimos, zero, mesmo quando se tratava temas, sobre os quais posições de terceiros eram alvo de amplas referências noticiosas.
A contrastar brutalmente com este discreto tratamento mediático, a viagem do deputado do CDS-PP no Parlamento Europeu na linha de Cascais, poucos dias depois, teve direito a antecipação em rádios e jornais, a peças de noticiários televisivos no próprio dia e no dia seguinte e a referências nos jornais dos dias seguintes.
Isto já depois de a «inauguração de um cartaz» – o que quer que isso seja –, o primeiro da campanha do CDS-PP às eleições para o Parlamento Europeu do próximo ano, ter tido direito a maior cobertura mediática do que as muitas iniciativas realizadas pelos deputados do PCP no mesmo dia no distrito de Leiria. Notícias em jornais, em papel ou online, e longas peças televisivas, com repetições, como na viagem de comboio, duraram até ao dia seguinte.
Vale a pena recordar que o PCP tem três deputados eleitos e o CDS-PP apenas um, facto conhecido de todos e que torna ainda mais incompreensível a opção editorial de omitir o ímpar trabalho dos dos deputados comunistas, em Bruxelas ou no País, antes, durante e depois dos períodos eleitorais. E, se a ligação à realidade e aos problemas concretos é marca do nosso trabalho institucional, seja no Parlamento Europeu, na Assembleia da República ou nas autarquias, é esse também o elemento que os média ocultam de forma mais evidente., Seguramente, à medida que a data das eleições se aproxima, isto deverá acentuar-se.
A desigualdade de tratamento em período eleitoral, que reiteradamente prejudica as candidaturas do PCP e da CDU, vem somar-se a um longo período em que o espaço mediático já exclui precisamente o PCP. Nos jornais nacionais, há deputados no Parlamento Europeu do PS, do PSD, do CDS-PP e do BE com colunas de opinião regulares. Do PCP não há nenhum.