Coreia, o caminho da Paz?

Ângelo Alves

Ao mo­mento da re­dacção destas li­nhas ainda não sa­bemos o re­sul­tado da ci­meira entre os Es­tados Unidos da Amé­rica e a Re­pú­blica Po­pular De­mo­crá­tica da Co­reia re­a­li­zada em Sin­ga­pura. Trata-se, na sequência da ci­meira de Pan­munjom, de um mo­mento his­tó­rico. É a pri­meira vez que um pre­si­dente dos EUA e o pre­si­dente da Co­missão As­suntos Es­ta­tais da RPDC se en­con­tram para dis­cutir a si­tu­ação na pe­nín­sula co­reana que, é im­por­tante re­cordar, se en­contra di­vi­dida há cerca de 65 anos em vir­tude de uma vi­o­lenta guerra im­pe­ri­a­lista, de­sen­ca­deada pelos EUA, que matou mi­lhões de civis co­re­anos e na qual os EUA ame­a­çaram usar a arma nu­clear.

É im­por­tante per­ceber que esta é uma ci­meira entre a ad­mi­nis­tração de uma po­tência agres­sora e os re­pre­sen­tantes de um povo agre­dido e di­vi­dido pela guerra im­pe­ri­a­lista. É este o «chão» his­tó­rico em que as­senta esta ci­meira. Apesar de todo o sim­bo­lismo e ca­rácter his­tó­rico seria in­ge­nui­dade pensar que dé­cadas de con­flito fi­ca­riam re­sol­vidas com o en­contro de Sin­ga­pura, ou que os EUA mu­daram a sua ati­tude e ob­jec­tivos re­la­ti­va­mente à pe­nín­sula co­reana e ex­tremo ori­ente. Trump de­mons­trou nas úl­timas se­manas que assim não é, apesar de se ter saído mal na ten­ta­tiva de es­ticar a corda, ma­nobra a que a RPDC e Kim Jong Un re­a­giram com in­te­li­gência.

É pro­vável que de Sin­ga­pura saia uma folha de rota para um pro­cesso ne­go­cial que se prevê longo e di­fícil e no qual irão in­tervir ou­tros «ac­tores». O fu­turo dirá se este pro­cesso con­tri­buirá para a tão de­se­jada reu­ni­fi­cação pa­cí­fica da Co­reia ou se pelo con­trário visa a im­po­sição do de­sar­ma­mento a apenas um dos lados para ul­te­ri­ores im­po­si­ções ou ca­pi­tu­lação. Neste mo­mento his­tó­rico é im­por­tante re­a­firmar que não é pre­ciso in­ventar a roda para re­solver a questão co­reana. Basta res­peitar aquilo que o povo co­reano de­seja: uma reu­ni­fi­cação pa­cí­fica, com des­nu­cle­a­ri­zação de toda a pe­nín­sula, saída das tropas es­tran­geiras ali pre­sentes há mais de 65 anos e res­peito pelas es­co­lhas e so­be­rania da­quele povo. É esse o ca­minho da Paz.




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