Da Liga dos Justos à Liga dos Comunistas

Albano Nunes

A mensagem internacionalista do Manifesto não mudou

O Congresso de reorganização da Liga dos Justos, reunido em Londres entre 2 e 9 de Junho de 1847 com a participação de Engels, deu o passo histórico que está na origem do movimento comunista e revolucionário mundial, ao decidir criar a Liga dos Comunistas e substituir o seu lema – «Todos os homens são irmãos» –, portador de uma mensagem humanista mas sem conteúdo de classe, pela inspirada e imortal palavra de ordem «Proletários de todos os países, uni-vos!», com que veio a terminar o Manifesto do Partido Comunista, o primeiro programa e primeira visão global do socialismo científico.

A importância deste marco histórico é muito grande e diz muito sobre a própria génese da concepção marxista do mundo, uma concepção inseparável da prática revolucionária, que se apoia no que de mais avançado a humanidade até então produziu e que tem no movimento operário e socialista (particularmente o francês) uma das suas «três fontes e três partes constitutivas» (Lénine). É no envolvimento militante com o movimento operário do seu tempo, combativo mas preso de ilusões e influências pequeno-burguesas, com as limitações próprias de uma classe em ascensão, que se afirma já no palco da história (como nas revoluções de 1830 e 1848/49), mas ainda em larga medida como «cauda da burguesia», que Marx e Engels criam, desenvolvem e aperfeiçoam a doutrina que, transformada em luta organizada das massas populares, viria a transformar profundamente o mundo.

A crítica impiedosa e o combate mais decidido a concepções idealistas e oportunistas que então predominavam (do proudhonismo francês ao tradeunionismo britânico passando pelo blanquismo heróico mas inconsequente e pelo anarquismo) acompanhou sempre a ilimitada confiança de Marx na missão histórica do proletariado e nas massas como motor da revolução. E desde a criação da Liga dos Comunistas (e posteriormente em 1864, da Associação Internacional dos Trabalhadores e, já só por Engels, da II Internacional em 1889) o grande desígnio dos fundadores do comunismo científico foi o de organizar a classe operária e as massas trabalhadoras, a nível de cada país e no plano internacional, tendo como objectivo a conquista do poder, condição necessária à superação revolucionária do capitalismo e à construção da nova sociedade sem classes.

Evocar hoje o Congresso fundador da Liga dos Comunistas deve servir não só para lembrar um acontecimento que diz muito sobre a própria existência e razão de ser do PCP, mas também para estimular a persistência na luta pelo reforço e unidade do movimento comunista e revolucionário mundial. A transformação da Liga dos Justos na Liga dos Comunistas tratou de unir trabalhadores de vários países numa mesma organização revolucionária internacional. Hoje trata-se de unir partidos, muitos deles fortemente enraizados em realidades nacionais muito diversas ou mesmo no poder.

Em 200 anos a situação no mundo mudou muitíssimo. O que não mudou foi a mensagem internacionalista do Manifesto. Num quadro em que se estreita cada vez mais a base social de apoio do capital, se amplia o conceito de solidariedade internacionalista e se torna necessário fortalecer a frente anti-imperialista, o internacionalismo proletário continua a ser o cimento de classe que pode e deve unir os comunistas de todo o mundo.

 



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