Zimbabué prepara eleições em Julho

Carlos Lopes Pereira

No Zimbabué, o presidente Emmerson Mnangagwa e o seu partido são os favoritos nas eleições gerais marcadas para 30 de Julho, as primeiras depois do afastamento de Robert Mugabe, em Novembro de 2017.

Em Harare, dirigindo-se na semana passada aos quadros da ZANU-PF, Mnangagwa lembrou que, agora, «quaisquer que sejam os problemas, todos devem concentrar-se nas eleições, participar da campanha eleitoral e mobilizar a população».

Salvo «enorme surpresa», escreve a revista Jeune Afrique, o presidente derrotará, provavelmente, logo na primeira volta, o seu principal rival, o novo dirigente do Movimento para a Mudança Democrática (MDC), Nelson Chamisa, de 40 anos.

Esta força opositora parece fragilizada por divisões após a morte, em Fevereiro último, do seu líder histórico, Morgan Tsvangirai. Esperava beneficiar de votos dos emigrantes zimbabueanos, sobretudo na África do Sul, mas o Tribunal Constitucional decidiu que os não-residentes só poderão votar deslocando-se ao país.

Os 5,4 milhões de eleitores inscritos irão às urnas para escolher o presidente da república, os deputados ao parlamento e os conselheiros municipais. Pela primeira vez, os cadernos eleitorais foram organizados com recurso à inscrição biométrica, incluindo registo de impressões digitais e reconhecimento facial. Uma eventual segunda volta das presidenciais realizar-se-á, se necessário, a 8 de Setembro.

O presidente Mnangagwa prometeu organizar eleições justas e transparentes. As Nações Unidas comprometeram-se a ajudar a preparar o processo eleitoral e observadores da União Europeia e da Commonwealth foram convidados a acompanhar o escrutínio, pela primeira vez desde 2002.

O convite é visto como um gesto de boa vontade de Harare com o Ocidente, que durante uma década e meia «castigou» o Zimbabué com sanções, depois de ter imposto, ao longo dos anos 90, através do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, um programa de «ajustamento estrutural» com as habituais medidas de «austeridade» e a liberalização da economia, em especial do sector financeiro.

Logo no discurso de posse, a 24 de Novembro último, o presidente Emmerson Mnangagwa, de 75 anos, um veterano da luta de libertação nacional do Zimbabué, anunciou mudanças visando redinamizar a economia. Defendeu «a incorporação de elementos da economia de mercado», encorajou para tal o «empreendedorismo» e garantiu a segurança dos investimentos estrangeiros no Zimbabué. Numa das suas primeiras medidas, voltou a nomear para o cargo de ministro das Finanças um histórico da ZANU-PF, Patrick Chinamasa, que tinha sido «despromovido» pouco tempo antes, por Mugabe, para um novo ministério, o da Cibersegurança.

Mas os esforços de Mnangagwa para reganhar a confiança da «comunidade internacional» e as garantias de transparência das eleições de 30 de Julho não são suficientes para o MDC, que já convocou manifestações de rua a exigir «reformas eleitorais».

Um porta-voz do movimento, Tendai Biti, declarou que o processo só será «livre e credível» se os militares, acusados de apoiar o governo, saírem da comissão organizadora das eleições e se mantiverem afastados da campanha até à votação. Pediu também uma auditoria externa aos cadernos eleitorais e contestou a parcialidade dos meios de informação estatais.



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