M5S e Extrema-direita acordam programa de governo em Itália
ITÁLIA O Movimento Cinco Estrelas (M5S) e a Liga (extrema-direita) acordaram, dia 18, um acordo de governo que não inclui nem o cancelamento da dívida nem a saída do euro.
Deriva populista em Itália combina demagogia com xenofobia
Segundo anunciou o líder do M5S, Luigi Di Maio, o acordo para «um governo de mudança» considera necessária a revisão da estrutura de governação económica europeia, incluindo a política monetária, o Pacto de Estabilidade, o Pacto Orçamental ou o Mecanismo Europeu de Estabilidade.
Esta formulação substitui a intenção de abandonar o euro, claramente explicitada numa primeira versão do documento, datada de 14 deste mês, tal como foi veiculada pela imprensa italiana.
Na política externa os dois partidos confirmam a pertença à NATO, mas defendem a abertura à Rússia como «parceiro comercial e económico» e o levantamento das sanções, manifestando-se pelo respeito do princípio de não ingerência em assuntos internos.
O acordo contempla ainda promessas eleitorais dos dois partidos que apontam em sentidos opostos. Assim, por um lado, o documento pugna por uma reforma fiscal, com a descida drástica dos impostos, medida proposta pela Liga, que pretende introduzir a chamada «flat tax» (imposto com duas taxas de 15 e de 20 por cento) que se aplicará a particulares e empresas.
Por outro lado, para incluir uma das bandeiras do M5S, acena-se com a criação do «rendimento de cidadania», no valor de 780 euros mensais, que seria pago a todas as pessoas em situação de necessidade, para fins de inserção social.
Ainda no campo social, os dois partidos estariam dispostos a diminuir a idade da reforma, que deveria subir para os 67 anos já em 2019. Em vez disso, prometem o acesso à reforma sempre que a soma dos anos de contribuições com a idade do trabalhador perfaça o número de cem.
Expulsões e xenofobia
Em conformidade com o discurso xenófobo de ambas as formações durante a campanha eleitoral, o programa prevê expulsões massivas de imigrantes, estimando que existam em Itália meio milhão de imigrantes em situação irregular.
No mesmo tom, o acordo estipula o registo dos chefes religiosos muçulmanos e o encerramento imediato das mesquitas não autorizadas.
No campo da segurança interna destaca-se o endurecimento das penas para certos crimes, um plano de construção de novas prisões ou o recrutamento massivo de agentes policiais, que passarão a usar fardas equipadas com câmaras de vídeo.
Os dois partidos querem igualmente reduzir o número dos deputados para 400 (contra 630 actualmente) e para 200 dos senadores (contra 318). É ainda anunciada a intenção de suspender a venda da companhia aérea Alitalia.