Recomeçou a Campanha dos Pobres

António Santos

Centenas de milhares de pessoas continuaram, na segunda-feira, a marcha que Martin Luther King começou há cinquenta anos, pouco tempo antes de ser assassinado. A renascida «Campanha dos Pobres» trouxe dezenas de milhares de pessoas às ruas das capitais de 37 estados dos EUA com um longo rol de exigências: erradicação da pobreza, salário mínimo de 15 dólares, direito à organização sindical, serviço de saúde público, universal e gratuito, cidadania plena para os imigrantes, revogação do plano fiscal de Trump, proibição do fracking,reversão do encarceramento em massa e o fim das guerras imperialistas, entre outras reivindicações.

A organização da Campanha, que conta com a participação de dezenas de grupos religiosos, sindicatos e organizações progressistas, denunciou a crescente demonização dos 140 milhões de pobres dos EUA, quase metade da população deste país norte-americano. «Como é possível ser mais fácil suspeitar que 140 milhões de pessoas são preguiçosas do que na possibilidade de apenas 400 pessoas serem egoístas?», perguntou-se o porta-voz da Campanha, o reverendo William Barber II, perante a multidão congregada em Washington. A intenção da Casa Branca, a poucos metros de distância, é impor novas e humilhantes condições para aceder a subsídios do Estado: um teste de despistagem de drogas para conseguir abono de família; múltiplos part-timespara ter direito a ajuda alimentar; trabalhar a tempo inteiro para conseguir acesso à saúde na velhice.

140 milhões de pobres, zero notícias
No dia em que se assinala, nos EUA, o Dia da Mãe, passaram pelo palanque de Washington exemplos das mães dos 140 milhões de trabalhadores pobres: Callie Greer, uma mãe do Alabama, que viu a filha morrer-lhe nos braços porque não tinha dinheiro para comprar um seguro de saúde; Carolina Allas, imigrante e trabalhadora num restaurante de comida rápida, cujo filho morreu atropelado à saída do Burger King onde trabalhava. Algo que, garante, «não teria acontecido se o nosso salário nos permitisse ter um carro».

Apesar do carácter pacífico do protesto e da participação de milhares de líderes de comunidades religiosas, a organização da Campanha denunciou que, só na segunda-feira, mais de mil manifestantes foram detidos pela polícia em todo o país. E nada disto mereceu sequer uma única notícia na imprensa portuguesa, nem mesmo uma nota de rodapé ou uma caixinha no canto de uma página menor.

A campanha original lançada por Martin Luther King arrancou em 1968 de Marks, no Mississipi, então a cidade mais pobre do condado mais pobre do Estado mais pobre dos EUA, e prolongou-se durante seis semanas. A Nova Campanha dos Pobres tem um calendário de quarenta dias de protestos descentralizados e culminará, a 23 de Junho, numa grande manifestação nacional em Washington.

 



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