Médicos em greve defendem o SNS e outra política de Saúde
ACÇÃO Após dois anos de «tentativas de negociação com o Ministério da Saúde», a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) e o SIM decidiram convocar três dias de greve, a terminar às 24 horas de hoje.
Os cuidados de Saúde estão a ser destruídos «por dentro»
Durante a tarde de anteontem, dia 8, a FNAM promoveu uma concentração frente ao Ministério, onde muitos dos médicos em protesto (mais de uma centena, como refere a agência Lusa) vestiam batas brancas, transportando cartazes e gritando palavras de ordem, mas também cantando uma adaptação de «Bella Ciao» para «Berto Tchau».
João Proença, presidente da federação, precisou que a concentração pretendeu mostrar o descontentamento dos médicos pela destruição dos cuidados de Saúde «por dentro».
Ao final desta terça-feira, os dirigentes máximos de cada uma das estruturas divulgaram uma declaração conjunta, em que «saúdam a participação dos médicos neste primeiro dia de greve, em protesto contra esta política de saúde», que teve «uma adesão próxima dos 90 por cento, nos blocos operatórios a nível nacional, e de 80 por cento nos cuidados primários de saúde e consultas externas». Agradecem «a profunda compreensão dos utentes».
Pouco depois da convocação da luta, há cerca de um mês, a FNAM tinha divulgado um apelo aos utentes, explicando que «a greve dos médicos é pela melhoria das nossas condições de trabalho, que permitem o mais importante: serviços de qualidade, dignos e responsáveis, em que os utentes sejam bem atendidos e tratados».
Agora, sintetizando os 28 pontos que são indicados no pré-aviso de greve, a federação destacou como objectivos desta paralisação «o desencadeamento imediato do processo de revisão da carreira médica e das respectivas grelhas salariais, bem como o descongelamento imediato da progressão da carreira médica e a criação de um estatuto profissional de desgaste rápido e de risco e penosidade acrescidos, com a diminuição da idade da reforma».
Na nota divulgada na segunda-feira refere-se ainda «o combate à existência de médicos indiferenciados», garantindo acesso à formação médica especializada (de particular importância após a aprovação do novo regime jurídico do internato médico, como a FNAM observa).
Os médicos em greve pugnam ainda pela diminuição do trabalho suplementar, baixando o tecto anual de 200 para 150 horas, «em conformidade com a restante Função Pública»; pelo limite de 12 horas de trabalho semanal em Serviço de Urgência; e pelo reajustamento das listas de utentes dos médicos de Família, de 1900 para 1550 utentes.
Perante atrasos na abertura de concursos para os médicos recém-especialistas, a FNAM defende «a abertura atempada» desses concursos e ainda «a abertura imediata dos vários concursos de progressão na carreira médica e dos concursos de mobilidade e de provimento».
CGTP-IN solidária
«Esta greve só tem lugar por manifesta falta de vontade política do Governo em responder, atempadamente, a um conjunto de problemas que afectam os médicos e os utentes do Serviço Nacional de Saúde», afirmou a CGTP-IN, num comunicado de imprensa, dia 7.
Para a confederação, «a continuada degradação de alguns serviços públicos de Saúde justifica e exige que o Governo abandone a obsessão pela redução excessiva do défice, responsável por muitos dos problemas existentes neste sector, e tome as medidas necessárias para dar mais atenção às propostas dos médicos e às necessidades e anseios dos utentes».
Reafirmando «solidariedade às organizações representativas dos médicos, nomeadamente a FNAM», a Intersindical «exorta os trabalhadores e o povo português a apoiar esta luta, que também é nossa».