Solução na EMEF custa menos do que manter o conflito
UNIDADE Sem acordo, os visíveis efeitos que a greve nas oficinas da EMEF tem nas condições de funcionamento do Metro do Porto podem verificar-se também na CP e na Medway, alertou a Fectrans/CGTP-IN.
Se a EMEF é da CP, os aumentos salariais devem ser idênticos
Na reunião que teve lugar esta segunda-feira, dia 23, e que terminou já depois das 20 horas, só não foi obtido qualquer acordo para solucionar o conflito na Empresa de Manutenção Ferroviária, pertencente à CP, porque os representantes do Governo insistiram em manter soluções diferentes das que foram implementadas na CP.
A Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações, de que faz parte o Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário, relatou no dia seguinte que naquela reunião, perante representantes das administrações da CP e da EMEF e dos ministérios das Finanças, do Trabalho e da tutela (Planeamento e Infra-estruturas), «colocámos mais uma vez que têm de optar entre os custos da solução e os custos do conflito, sabendo que estes são muito superiores».
Reconhecendo que «os trabalhadores da EMEF são fundamentais para assegurar um transporte seguro e com qualidade na CP, Metro do Porto e Medway», o passo seguinte deve ser a melhoria das suas condições salariais.
Na reunião, continuaram a faltar propostas do Governo e da empresa «que tenham como referência aquilo que foi implementado na CP e que melhorem significativamente o valor do subsídio de turno». Isto inviabilizou a solução do conflito, a qual «está ao alcance de uma empresa que nestes últimos anos tem noticiado a obtenção de lucros, mas onde os trabalhadores continuam com salários de 2009».
A Fectrans reafirmou «toda a disponibilidade para reunir e acordar uma solução», mas «é preciso que do outro lado deixem o discurso vago e sem sustentação, para se centrarem na realidade de que, a não haver acordo, o que se está a passar agora no Metro do Porto, brevemente pode estar a acontecer também na CP e na Medway, empresas para quem a EMEF trabalha».
As lutas em curso, envolvendo também a Comissão de Trabalhadores e os sindicatos Sindefer, Sinfb e Sinfese, decorrem das decisões anunciadas a 28 de Março, numa concentração nas Escadinhas do Duque, em Lisboa, junto à sede da CP, e da discussão em plenários de trabalhadores, nos dias 18, 19 e 20 de Abril.
No dia 12, as estruturas representativas tinham decidido convocar greves de três horas por turno, a 26 e 27 de Abril, e ao trabalho extraordinário, no período até final deste mês. Mas já decorriam greves parciais nas oficinas do Porto (Guifões e Contumil), desde 29 de Março, com adesão praticamente total. No dia 20, a Metro do Porto admitiu publicamente que, a manter-se a greve, poderia ser necessário suprimir viagens ou até encerrar linhas temporariamente.
Para corresponder às reivindicações, a EMEF terá um custo anual «na ordem dos 800 mil euros», estima o SNTSF, num comunicado de dia 22, onde cita informações da própria empresa, referindo um crescimento da produtividade por efectivo em 20 por cento e resultados de 9,8 milhões de euros em 2017 (EBITDA), mais quatro milhões do que no ano anterior. «Tudo aumenta, menos os salários», protestou o sindicato.
A greve de três horas continua até 12 de Maio, em Guifões, e até 30 de Abril, em Contumil. Além da greve de três horas por turno, ontem e hoje, em todos os locais de trabalho, está convocada uma greve de 24 horas, a 3 de Maio, em todas as oficinas que não tenham já marcadas outras formas de luta para esse dia, confirmou a Fectrans na terça-feira.
PCP responsabiliza
A Direcção da Organização Regional do Porto do PCP «responsabiliza os governos (anterior e actual) pela situação vivida, mas não pode deixar de denunciar que, ao longo da última década, também o Conselho Metropolitano do Porto e a Administração da Metro do Porto foram coniventes com a falta de meios humanos e materiais e com o processo de degradação para o qual querem empurrar a EMEF».
Num comunicado de dia 20, a DORP recorda que «são antigos – e sempre foram conhecidos e silenciados pela Metro do Porto e pelo Conselho Metropolitano – os problemas de falta de condições das composições, de atrasos e de veículos parados à espera de manutenção por falta de peças». Assim, as consequências da greve no serviço «evidenciam a razão dos trabalhadores quanto à importância da empresa, mas também quanto à persistência dos problemas de manutenção ao longo dos anos».
«A necessidade de contratação de mais trabalhadores, a actualização de salários e subsídios e a garantia de igualdade de tratamento em relação aos trabalhadores da CP» são reivindicações a que o Partido «reconhece inteira justiça, destacando o facto de a sua concretização ser determinante para que esta empresa, pública e estratégica, possa prosseguir com a sua função de manutenção do equipamento ferroviário na região».
A DORP lembra ainda que «a unidade, combatividade e firmeza destes trabalhadores têm permitido resistir aos vários ataques que governos do PSD/CDS e do PS têm feito para a privatização ou destruição da EMEF».