A «grande coligação» – parte 2
Cinco anos depois, o acordo de governo celebrado na Alemanha entre a direita da CDU/CSU e os sociais-democratas do SPD foi reeditado.
Em 2013, a «grande coligação» revestiu-se de um óbvio simbolismo. As famílias políticas que determinam o rumo do processo de integração capitalista europeu assumiam, formalmente em conjunto, o governo da sua potência hegemónica.
Na Alemanha, como noutros países, as consequências da política de direita levaram a uma erosão da base social e eleitoral de apoio dos seus protagonistas.
O regime de alternância entre protagonistas comprometidos com a execução de uma mesma política – trave-mestra do sistema de representação burguês vigente – deu temporariamente lugar ao exercício conjunto de responsabilidades governativas por parte desses mesmos protagonistas, de forma a assegurar a continuidade da política.
Os sociais-democratas do SPD pagaram cara a solução: obtiveram o pior resultado de sempre em eleições gerais no pós-guerra. O que levou a juras dos seus responsáveis de que estaria afastada a possibilidade de reeditar a coligação. Como sempre, falaram mais alto os interesses do grande capital. Pese embora o acalentado crescimento da extrema-direita, o que melhor serve estes interesses, no imediato, ainda é a continuidade. Tal passa pelo aprofundamento de uma integração capitalista europeia talhada à sua medida. A reedição da «grande coligação» é a solução que melhor serve esse objectivo.
Entre os aspectos a destacar no novo acordo de governo está o compromisso da CDU/CSU e do SPD de incrementarem os gastos militares em pelo menos dois mil milhões de euros, no domínio das «responsabilidades internacionais», embora a médio prazo deva ser libertada uma componente adicional de «investimentos» de, pelo menos, mais cerca de nove mil milhões.
No acordo as partes sublinham a importância de uma «reforma» da União Europeia, a par da vontade de trabalhar estreitamente com a França nesse processo. Assume-se, assim, a necessidade de articulação do eixo franco-alemão. No que se refere à Zona Euro, fica clara a intenção de aprofundar a concentração de poder económico e político no directório de potências, o que envolve a possível evolução de instrumentos de domínio como o Mecanismo Europeu de Estabilidade para formas do tipo «FMI europeu». O preço dessa evolução passará por mais férreos constrangimentos no plano orçamental e não só.
Evidenciando contradições que existem e que tendem a avolumar-se, um conjunto de oito países do Norte vieram já tentar pôr alguma água nesta fervura. Aceitando e defendendo maior disciplina orçamental e maior rigidez de regras, aceitando também o aprofundamento do mercado único, da União Bancária e da agenda de liberalização e desregulação do comércio internacional, estes países recusam quaisquer transferências de recursos financeiros ou de soberania associadas à instituição de um Fundo Monetário Europeu ou de um eventual orçamento da Zona Euro.
No debate em curso sobre «o futuro da UE», os sulcos cavados pelas contradições que marcam a integração capitalista europeia não delimitam terrenos aceitáveis para os povos do continente em nenhum dos lados. É todo o processo que deve ser derrotado.