Jovens mantêm luta por emprego estável e salários dignos

COMPROMISSO Recusando a resignação e o retrocesso, a manifestação do 28 de Março exigiu medidas concretas de combate à precariedade e aos salários baixos e afirmou a determinação de prosseguir a luta.

A luta permanece indispensável para haver resultados positivos

No Dia Nacional da Juventude, jovens de todo o País responderam ao apelo da Interjovem e da CGTP-IN, transportando nas ruas de Lisboa a denúncia dos problemas, a valorização dos avanços, embora limitados, alcançados com a mudança da relação de forças no Parlamento, e a exigência de respostas eficazes a problemas que persistem e marcam o dia-a-dia de centenas de milhares de assalariados que estão no início da vida activa.

O foco foi apontado a dois desses problemas, sentidos em todos os sectores de actividade, tanto nas empresas privadas, como no sector público: a precariedade de emprego e os baixos salários. Para eles, desde a convocação desta jornada, foi apontado um destino comum: «são para acabar».

A manifestação nacional da juventude trabalhadora saiu do Cais do Sodré cerca das 15h30, pela Rua do Arsenal, para a Praça do Município, o Chiado, Camões e Calçada do Combro, chegando junto da escadaria do Palácio de São Bento hora e meia depois. Com faixas, cartazes e bandeiras, ou apenas com a voz enérgica e o punho levantado, insistindo que «é preciso que isto mude, emprego para a juventude» e «é justo e necessário o aumento do salário», desfilaram os diversos distritos e sectores. Marcaram assim presença, entre outros, os subcontratados das empresas de telecomunicações, os trabalhadores dos super e hipermercados, das indústrias eléctricas e da metalurgia, da Função Pública, da Administração Local, da hotelaria e alimentação...

Críticas ao documento que o Governo propôs na Concertação Social, sobre a precariedade laboral (e também sobre a contratação colectiva), sobressaíram nas intervenções sindicais e na resolução, no final da manifestação, tal como antes, em declarações à comunicação social. Sobre essas propostas, como noticiámos, a CGTP-IN tomou posição na antevéspera da manifestação, dia 26.

Na manifestação foi muito sublinhada a exigência de que seja respeitado o princípio de que um posto de trabalho que corresponde a uma necessidade permanente deve ser ocupado por um trabalhador com contrato efectivo. Quanto ao Executivo, os manifestantes não se cansaram de repetir que «o Governo tem de optar, a precariedade é para acabar».

João Ribeiro, que interveio em nome da Interjovem, defendeu que «é possível ir mais longe no combate eficaz à precariedade». Mas «aquilo a que se assiste é a mudar alguma coisa mantendo aspectos centrais do problema», protestou, citando o exemplo de uma das medidas avançadas pelo Governo: ao admitir a contratação a termo para instalação de empresas com menos de 250 trabalhadores é dado «um sinal claro ao patronato de que, afinal, pode continuar a apostar no trabalho precário e nos baixos salários».

Logo depois, Arménio Carlos recusou a ideia de aplicar uma taxa às empresas que apresentarem índices de precariedade acima da médica sectorial. O Secretário-geral da CGTP-IN apresentou o exemplo da hotelaria, restauração e turismo, onde a precariedade será de «30 ou mesmo 40 por cento». Ora, «na lógica da proposta do Governo, iria continuar neste nível e só seria aplicada a “taxa” quando uma empresa ultrapassasse esta média, o que «seria como a bula que se pagava para poder comer carne na Páscoa».

«Os avanços que, com a luta, foi já possível alcançar no quadro da nova relação de forças existente na Assembleia da República» são assinalados na resolução, lida e aprovada após as intervenções dos dirigentes. Defendendo «a necessidade de ir mais longe na defesa, reposição e conquista de direitos», os jovens reclamam «medidas concretas para um combate eficaz à precariedade e aos baixos salários», e não apenas «medidas paliativas».

Para «abrir caminho a um Portugal mais justo e democrático, onde os jovens possam construir, no presente, um futuro melhor», ficou expresso o compromisso da juventude de, «organizada nos sindicatos da CGTP-IN», «dar continuidade à reivindicação e à luta, nos locais de trabalho e na rua, pelo direito ao trabalho e ao trabalho com direitos e para que seja dada resposta séria e célere ao problema da precariedade».

Os jovens «querem saber»

«Esta manifestação da juventude trabalhadora derrota a tese de que “os jovens não querem saber”», assinalou Jerónimo de Sousa, em declarações à comunicação social durante a manifestação.
O Secretário-geral do PCP dirigiu a delegação do Partido que saudou a passagem dos manifestantes, logo após a descida da Calçada do Combro, e da qual fizeram também parte: Luísa Araújo, do Secretariado do Comité Central; João Frazão, da Comissão Política do CC; João Ferreira, do CC e deputado no Parlamento Europeu; e Rita Rato, deputada na Assembleia da República.
Num breve comentário, Jerónimo de Sousa sublinhou que «os jovens querem saber, particularmente em relação à sua vida, à sua profissão, à sua família – altamente comprometidas com o grau dos vínculos precários que hoje existem nas empresas de forma diversa», como «os contratos a prazo, as empresas de trabalho temporário, o trabalho à hora e à peça».
Assim sendo, «é de valorizar esta manifestação, que deveria ter eco junto do Governo», o qual «dá um mau exemplo na Administração Pública e acaba por incentivar o sector privado a manter estes vínculos precários, num quadro de baixos salários».
Considerando a precariedade como «uma questão central para a juventude e para o futuro do País», lembrou que o PCP defende, como princípio, «para cada posto de trabalho permanente, um contrato de trabalho efectivo», para concluir que, «a partir desta ideia central, seria possível combater muitos e muitos abusos».




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