Critérios que são tudo menos editoriais
A falta de oportunidade mediática do tema a que o PCP dedica a sua agenda, de acordo com os mais variados critérios editoriais, é uma das razões recorrentes para a exclusão ou enviesamento do tratamento das iniciativas que realiza. No entanto, em poucos dias, a agenda do Secretário-geral do PCP e o seu tratamento mediático deitou por terra esse argumento tantas vezes invocado.
Na terça-feira, dia 20, o tema em todos os noticiários de televisão e rádio, e nas primeiras páginas dos jornais do dia seguinte, foi a entrega do relatório sobre os incêndios do passado mês de Outubro, realizado pela Comissão Técnica Independente designada pela Assembleia da República. Não faltaram leituras do que lá se escreveu, todas elas naturalmente apressadas, dada a extensão e âmbito do documento. Mas nesse mesmo dia o PCP realizou um seminário sobre «A defesa da floresta e do mundo rural», com a presença de Jerónimo de Sousa, em Leiria – distrito onde ardeu 87 por cento da área da maior mata nacional.
Escandalosamente, o Telejornal da RTP foi o único das três estações de televisão a guardar tempo de antena para a iniciativa, e dos diários só há registo de uma caixa no Correio da Manhã que, para que se entenda bem a sua dimensão, ocupa 2,5 por cento da área ocupada pelo artigo de opinião semanal de Assunção Cristas nesse mesmo jornal. Só na foto que o ilustrou, no dia seguinte, com a própria a apanhar galhos em Vale de Cambra, cabiam umas três ou quatro «caixinhas» como a que surgiu no dia anterior. São critérios que parecem tudo menos editoriais.
Passados dois dias, a 22, o Secretário-geral do PCP manteve encontros com a administração e os representantes dos trabalhadores da Opart, a empresa pública que gere o Teatro Nacional de São Carlos e a Companhia Nacional de Bailado. Desses contactos nem uma «caixinha» se viu nos jornais, nem uns segundos nas rádios ou nas televisões. O contraste com o tratamento dado à visita do primeiro-ministro ao Museu Nacional de Arte Antiga ou de dirigentes de outro partido ao arquivo da Cinemateca, apenas uns dias antes, num momento em que avolumavam notícias sobre o descontentamento do sector da Cultura, é gritante.
Estes são dois exemplos claros que comprovam que apenas a deliberada discriminação explica o apagamento mediático da iniciativa política do PCP. Mesmo quando as agendas coincidem (a mediática e a do Partido), a comunicação social dominante ignora o facto e segue caminho.