Onde é que eu já ouvi isto?
Eles não perdem nenhuma oportunidade para vender o seu peixe e, em boa verdade, há sempre uma oportunidade, uma passadeira vermelha que lhes estendem para fazerem o seu contrabando de ideias quase sempre velhas como velha é a exploração.
Destacam-se entre eles os CEO deste mundo, que é a nova terminologia para identificar os administradores das empresas e particularmente os das empresas tecnológicas, que é sempre de modernidade que falam.
Esta semana, ouvimos, num espaço que a Antena 1 e o Jornal de Negócios premonitoriamente intitulam «Conversa Capital», o CEO e Chairman da Nova Base, empresa tecnológica em ascensão, dizer que, não sendo urgente, é necessário fazer uma reforma na legislação laboral, que está anacrónica.
Discorre sobre a nova realidade dos trabalhadores, que não se coaduna com essas leis do trabalho de outro tempo, uma vez que a «relação que os “millennials” (nova designação dos seres humanos deste milénio) têm com o trabalho e com o lazer não é a nossa», ilustrando com «um trabalhador da Nova Base que pode estar às 4h da manhã a trabalhar em casa», ou seja, segundo ele, os trabalhadores agora já não têm os mesmos ritmos de antigamente.
Para este senhor, portanto, os dias já não se sucedem às noites e estas não são, em princípio para dormir e descansar. Para ele, qualquer hora é hora, e é natural que, a desoras, e sem receber mais por isso, os trabalhadores estejam disponíveis para a empresa. Horários dignos, direitos, vínculos estáveis, isso é coisa do passado. Vida pessoal, relações familiares, possibilidade de organização do seu tempo, tempo para viver, enfim, tudo isso está em desuso e deve ser afastado do caminho da internacionalização, da globalização, das taxas de rentabilidade e da «corporate governance».
Afirmando que Portugal é bom para se viver, mas não para trabalhar, o CEO já tem a solução para isso. Menos carga fiscal e desregulação da legislação laboral.
Onde é que eu já ouvi isto?