Vigília na ex-Triunfo <br>para garantir património

ACÇÃO Para impedirem que mercadoria, máquinas e outros bens sejam removidos, as trabalhadoras da Têxtil Gramax Internacional mantêm desde sexta-feira à tarde uma vigília nos portões da fábrica.

É urgente atribuir meios de subsistência aos trabalhadores

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Os trabalhadores (mulheres, na sua maioria) da Triunfo Internacional, fábrica de roupa interior que funcionou com sucesso em Sacavém desde 1961, passaram a estar ainda mais atentos ao destino do património da empresa desde que, a 13 de Dezembro, souberam que foi pedida a insolvência da TGI – denominação da firma do fundo de investimento Gramax, a quem a Triumph International entregou, em Setembro de 2016, a sua filial portuguesa.

Não lhes foram pagos cinco dias do salário de Novembro, nem o mês de Dezembro e o subsídio de Natal. Preservar o património da empresa é fundamental para garantir os créditos mas também para manter aberta a possibilidade de viabilização da fábrica e dos 463 postos de trabalho. Ali estão, por exemplo, um milhar de máquinas, com uma capacidade produtiva de 30 milhões de minutos por ano, como anuncia a própria empresa.

No piquete de vigília, sábado à tarde, algumas trabalhadoras contaram ao Avante! como se foram apercebendo de que «estão a desaparecer coisas». As razões de suspeita são fundadas na prática da gerência (demissionária) e do administrador da Gramax. Essa prática contrariou as garantias de alargamento da carteira de clientes e investimento de um milhão de euros, dadas a 4 de Janeiro de 2017, com bastante eco, durante a visita do ministro da Economia à empresa.

Encomendas alternativas de monta não surgiram, o trabalho começou a faltar, foi vendida uma unidade desactivada em Camarate e foi proposta ao Governo uma «reestruturação» para justificar 150 despedimentos «por mútuo acordo». Nos últimos dias, houve tentativas de retirar mercadoria (peças de roupa já terminadas) e automóveis.

Sem conseguirem que o patrão, Alexander Schwarz, e os gerentes se comprometessem com o pagamento das remunerações em atraso ou assumissem responsabilidades pelo rumo de destruição da empresa, as trabalhadoras mobilizaram-se e frustraram os actos de delapidação do património. Contaram-nos que uma trabalhadora, vendo-se sozinha perante o dirigente que ia sair num carro da firma, colocou-se à frente do automóvel e o senhor teve de sair pelo seu pé. «Se não há dinheiro para nos pagar, também não há para carros e gasolina», explicaram-nos Carla Menezes e Ana Gomes.

«O que queremos é trabalho», afirmaram sem hesitar as trabalhadoras. Mas, na precaução da insolvência, «vamos ficar aqui até o administrador judicial tomar conta da empresa», garantiram.

 

Solidariedade

Nesta vigília, como noutros momentos da luta, tem sido constante a presença e a palavra solidária de dirigentes da CGTP-IN, da organização do PCP e de deputados do Partido, e de eleitos nos órgãos do Poder Local, com destaque para a Câmara Municipal de Loures e o seu presidente, Bernardino Soares.

No dia 6, primeira noite de vigília, em Dia de Reis, o grupo coral da Analor (Associação dos Naturais e Amigos de Loriga, sedeada em Sacavém) foi ali cantar as Janeiras. O Movimento Democrático de Mulheres, a Interjovem, a União dos Sindicatos de Lisboa e vários sindicatos marcaram presença solidária.

Os Bombeiros Voluntários de Sacavém foram serrar lenha oferecida para queimar nestas noites frias. A Câmara instalou um stand para abrigo do piquete e com instalações sanitárias.

No dia 7, domingo, a Comissão Concelhia de Loures reiterou o apoio e a solidariedade do PCP para com a luta na Gramax e apelou ao contributo popular para o «pequeno-almoço reforçado» na manhã de segunda-feira. Ali estiveram, nestes dias, os deputados Miguel Tiago e Rita Rato (Assembleia da República) e João Pimenta Lopes (Parlamento Europeu), mas também Armindo Miranda, da Comissão Política e outros membros do Comité Central do Partido.

O Secretário-geral, Jerónimo de Sousa, iria estar ontem, à tarde, junto dos trabalhadores em vigília.

 

Resultados animam luta dura

Organizadas no Sindicato dos Têxteis, Lanifícios, Vestuário, Calçado e Curtumes do Sul, da CGTP-IN, as trabalhadoras da Triunfo Internacional realizaram diversas acções de luta, desde que a deslocalização lhes foi anunciada pela Triumph, a 11 de Novembro de 2015. A 17 de Dezembro desse ano concentraram-se no Largo Real do Forte (Sacavém) e a 5 de Maio de 2016 manifestaram-se em Lisboa. No dia 20 de Maio de 2016, o PCP realizou uma marcha de solidariedade e, no dia 28, o Município de Loures promoveu um espectáculo de solidariedade no ginásio dos Bombeiros Voluntários de Sacavém.

Com a sua luta e a solidariedade que esta suscitou, os trabalhadores impediram que a multinacional alemã concretizasse então o encerramento da empresa, como recordou Manuela Prates, na segunda-feira à tarde. A dirigente do sindicato falou às trabalhadoras que se concentraram junto à fábrica, a apoiar em grande número o piquete organizado em escalas de quatro horas, sobre as decisões tomadas pouco antes pelo tribunal onde foi entregue o pedido de insolvência. Correm os prazos para que a empresa apresente mais documentos e para uma nova apreciação pelo juiz. Manuela Prates insistiu: «vamos continuar a aguardar aqui, com determinação».

A deslocação à fábrica, nesse dia, de técnicas do IEFP e de um inspector da ACT foi referida como outro resultado da luta e dos compromissos assumidos pelo Ministério da Economia, quando recebeu representantes dos trabalhadores, a 21 de Dezembro, dia de uma concentração na Praça Luís de Camões.

A importância de, urgentemente, assegurar subsídios de desemprego e outros apoios sociais, para acorrer às grandes dificuldades criadas pela falta de salários, foi salientada nesta acção em Lisboa e em várias ocasiões posteriores. Na primeira manhã da vigília, sábado, este foi um ponto destacado por Arménio Carlos. Além do Secretário-geral da CGTP-IN, também Mónica Antunes, do Sindicato dos Têxteis, acentuou que «já se passa fome», particularmente nas famílias cujo único rendimento provém do trabalho nesta fábrica.

A premência de uma intervenção do Governo marcou o «pequeno-almoço reforçado», uma concentração de trabalhadores da TGI na segunda-feira de manhã, com a presença solidária de representantes de sindicatos de outros sectores, que provocou uma interrupção simbólica do trânsito na Rua Vasco da Gama durante alguns minutos.

 



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