A Revolução de Outubro – Paz, terra e o poder dos Sovietes
SOCIALISMO O primeiro Estado da História dirigido por operários e camponeses afirmou desde a primeira hora a sua natureza de classe aprovando um programa que correspondia aos anseios mais profundos de todos os trabalhadores e povo russo: Paz, Terra e o poder dos Sovietes.
A Revolução de Outubro marcou o início de uma nova era na luta pela paz
Derrubado o governo da grande burguesia (Governo Provisório) no dia 7 de Novembro de 1917, o II Congresso dos Sovietes de toda a Rússia e o Conselho dos Comissários do Povo (governo de operários e camponeses) presidido por Lénine, depois de aprovar o Decreto dobre a organização do poder político e um Apelo dirigido aos operários, soldados e camponeses para que apoiassem o novo poder revolucionário, aprovou os seus primeiros actos legislativos: o Decreto sobre a Paz e o Decreto sobre a Terra, abrindo assim o caminho para a edificação da primeira sociedade socialista na história da humanidade.
A Rússia estava envolvida na I Guerra Mundial (1914-1918) com consequências devastadoras para o povo russo: milhões de mortos e feridos e um imenso rasto de sofrimento e destruição. A paz era por isso uma profunda aspiração das massas, em particular dos soldados que desertavam da frente de batalha às centenas de milhares.
A pátria dos sovietes pôs fim à guerra imperialista pela luta revolucionária das massas dirigida pelo Partido Bolchevique. Com a Revolução de Outubro, ao derrubar o regime da burguesia e dos grandes proprietários da terra e ao instaurar o poder dos sovietes sobre um país que representava um sexto do globo, os operários e os camponeses da Rússia dirigidos pelo Partido Bolchevique e por Lénine, abriram uma primeira e gigantesca brecha no sistema mundial do imperialismo.
A paz como objectivo estratégico
O Decreto sobre a Paz, redigido por Lénine, foi o primeiro acto legislativo do novo poder soviético, aprovado logo no dia 8 de Novembro.
Com o Decreto sobre a Paz a ideia da instauração de uma paz durável passou a ser, pela primeira vez na história da humanidade, base política de um Estado. Pelo Decreto sobre a Paz o novo poder soviético propunha «a todos os estados beligerantes e aos seus governos» que se começasse imediatamente negociações sobre uma paz justa e democrática, entendendo por tal paz uma «paz imediata, sem anexações (isto é sem conquista de terras estrangeiras, sem incorporação pela força de povos estrangeiros) e sem contribuições».
Ficava assim evidente, desde o primeiro dia, a política externa do Estado soviético tendo como objectivo assegurar a paz e o respeito pelo direito de auto-determinação dos povos.
Lénine mostrou igualmente a necessidade da coexistência pacífica entre estados com regimes sociais diferentes e de uma política externa de paz a que aliava a necessidade de assegurar, ao mesmo tempo, as condições indispensáveis para estar pronto a responder a uma agressão imperialista e desenvolver a solidariedade activa com os povos que lutam pela sua libertação e de uma firme vontade de estabelecer relações com os estados capitalistas na base de princípios.
Assim foi com a aprovação do Decreto sobre a Paz em 1917, assim foi com a aprovação do Tratado de Brest-Litovsk que pôs fim à I Guerra Mundial, assim foi quando em 1922 se realizou a Conferência de Génova, se assinou o Tratado de Rapallo com a Alemanha e propôs um programa de redução geral dos armamentos; assim foi quando a União Soviética se solidarizou com a República espanhola face à agressão fascista; assim foi também quando, durante os anos 30 do século XX, o Estado soviético foi o único estado a defender a ideia de segurança colectiva e que visava eliminar o perigo de guerra que emanava do nazi-fascismo; quando resistiu e derrotou o nazi-fascismo.
A vitória sobre o nazi-fascismo com o contributo determinante da União Soviética constituiu um feito de uma extraordinária dimensão e alcance histórico.
Na sequência desta vitória criou-se condições para o estabelecimento de uma nova ordem mundial fundamentalmente antifascista, de paz e democrática que determinou a evolução da situação mundial na segunda metade do século XX, abrindo caminho a progressos libertadores nunca antes alcançados pela humanidade.
Importantes princípios que devem reger as relações internacionais ou a resolução pacífica e negociada de conflitos entre estados – desde o primeiro momento defendidos pelo poder soviético – foram consagrados na Carta da ONU e instituídos no direito internacional.
Com o avanço das forças da paz, da libertação nacional, da democracia, do progresso social e do socialismo, os trabalhadores e os povos, na sua luta de emancipação social e nacional alcançaram conquistas históricas por todo o mundo que marcaram profundamente o século XX e que continuam a repercutir-se na actualidade.
A agressiva acção e as perigosas ameaças do imperialismo à paz e segurança mundiais foram contidas com o desenvolvimento da capacidade militar defensiva da União Soviética e a criação do Pacto de Varsóvia em 1955, assim como pela formação de um amplo e forte movimento pela paz e de solidariedade com os povos em luta pela libertação nacional, pelo fim da opressão fascista, pela liberdade, a soberania, a democracia, por transformações progressistas e revolucionárias.
Assegurando a sua defesa e paridade militar estratégica face ao imperialismo, e designadamente face ao imperialismo norte-americano, a política de paz da União Soviética – de coexistência pacífica entre estados com diferentes sistemas sociais; de respeito pelo direito à auto-determinação dos povos; de solidariedade com a luta dos povos vítimas de opressão e agressão; de controlo de armamentos e de desarmamento, nomeadamente quanto às armas nucleares e outras armas de destruição massiva; de desanuviamento das relações internacionais, favorecendo a paz, a segurança colectiva e a cooperação, como na histórica Acta Final de Helsínquia sobre Segurança e Cooperação na Europa, assinada em 1975 – impediu o imperialismo de desencadear uma nova guerra mundial e impôs-lhe a contenção da sua acção agressiva e o avanço da luta libertadora dos povos.
Ao marcar o início de uma nova época, a época da passagem do capitalismo ao socialismo, a Revolução de Outubro marcou também o início de uma nova era na luta pela paz. Ela foi, de facto, como refere Lénine «a primeira vitória na luta para suprimir as guerras».
A questão da terra
O segundo decreto aprovado (na madrugada de 9 de Novembro) foi o Decreto sobre a Terra.
A Rússia era um país agrário atrasado com o nível de desenvolvimento da produção agrícola mais baixo de todos os países agrários da Europa, usando ainda fundamentalmente o trabalho manual, alfaias agrícolas primitivas e com ausência de cultura agronómica. O campesinato russo era pobre, privado de direitos e analfabeto. Quatro quintos da população vivia nas aldeias e estava ligada à agricultura, sua base fundamental de subsistência. A maioria dos camponeses era constituída por pequenos produtores que isoladamente cultivavam as suas terras com a força de trabalho das suas famílias e os seus próprios meios de produção.
Dez milhões de famílias camponesas dispunham de 73 milhões de hectares de terras e 28 mil latifundiários possuíam 62 milhões de hectares.
Além disso, as melhores terras pertenciam aos grandes proprietários, latifundiários e kulakes. As parcelas dos camponeses eram terras pouco férteis. A maioria dos camponeses possuía tão pouca terra que nem chegava para o seu sustento.
Privados da possibilidade de cultivarem a sua pequena parcela, muitos camponeses eram forçados a ir trabalhar para os latifundiários e para os kulakes como assalariados agrícolas. Por outro lado, as constantes dívidas eram o flagelo dos pequenos e médios camponeses.
Com a aprovação do Decreto sobre a Terra a terra foi nacionalizada e declarada propriedade de todo o povo: não podia mais ser vendida nem comprada, dada em arrendamento ou hipotecada, nem alienada por qualquer outro processo.
Na base deste Decreto foi liquidado sem indemnização o latifúndio, bem como todas as restantes propriedades agrárias de origem feudal, foram confiscadas todas as herdades dos agrários, incluindo o gado, alfaias agrícolas, casas, etc.
Em conformidade com o Decreto sobre a Terra foram entregues aos camponeses, gratuitamente, 150 milhões de hectares de terra que antes pertenciam às classes exploradoras e respectivas alfaias agrícolas. Os camponeses ficaram isentos do pagamento anual pelo arrendamento das terras e ficaram igualmente livres de dívidas ao banco Agrícola (no valor de um bilião e 300 milhões de rublos-ouro).
Ao elaborar o programa das transformações agrárias, V. Lénine indicava que as pequenas economias, assim, não sairiam da pobreza e constantemente sublinhava a necessidade da criação de grandes empresas agrícolas colectivas. Estas empresas têm possibilidades de usar mais amplamente as máquinas, de mecanizar a produção e podem manter um grande número de animais produtivos em melhores condições, organizar a industrialização da matéria-prima agrícola, introduzir sistemas racionais de exploração do solo empregando os avanços da ciência agronómica, utilizar largamente os adubos orgânicos e minerais, a cooperação dos operários e a organização do trabalho.
Assim, o Estado soviético criou o Sovkhoz como empresa estatal agrícola modelo.
Por outro lado, foi criado o kolkhoz que era uma forma superior de organização cooperativa dos camponeses se unirem voluntariamente para realizar em conjunto e permanentemente a grande produção agrícola socialista, na base dos meios de produção e do trabalho colectivo.
O poder soviético realizava assim na questão agrária uma política em duas direcções. Por um lado, a distribuição justa da terra. Por outro lado, prevendo que o desenvolvimento da pequena economia camponesa não tinha perspectivas, prevendo a impossibilidade de nessa base desenvolver rapidamente e a altos ritmos as forças produtivas da agricultura, o Estado soviético começou a criar as condições para a passagem da pequena propriedade camponesa à grande empresa colectiva socialista.
Foi uma passagem não administrativa nem forçada, nunca feita contra a vontade dos interessados, os camponeses.
A reconstrução da economia nacional destruída pela guerra imperialista travada pela Rússia czarista, assim como pela intervenção estrangeira e pela guerra civil, imposta ao povo soviético pela burguesia e pelos latifundiários derrubados, no fundamental ficou terminada em 1926. Nesse mesmo ano a área semeada já ultrapassava os anos anteriores à guerra: em 1926 a área semeada era de 110,3 milhões de hectares enquanto em 1913 foi de 105 milhões de hectares mas a produção global na agricultura ultrapassou em 18% o nível de 1913.
Em Dezembro de 1927 já havia 15 mil kolkhozes compostos por 195 mil pequenas propriedades camponesas, mas no final de 1932 havia 200 mil abrangendo a esmagadora maioria do campesinato e, nos anos de 1936-1937, 93% das propriedades camponesas já tinham aderido aos kolkhozes com uma área cultivável que constituía mais de 99% da área semeada por todos os camponeses.
Enquanto nos anos 1921-1928 o estado armazenava em média 110 milhões de quintais de trigo por ano, em 1933-1937 a média anual subiu para 275 milhões de quintais (quase duas vezes e meia mais). De 1932 a 1937 o número de cabeças de gado bovino dos kolkhozianos aumentou 2,5 vezes, ovino e caprino 2,4 e suíno 4,3.
Foram construídas novas casas, alterou-se todo o aspecto das povoações e aldeias. Aumentou o número de escolas, hospitais, clubes, lojas, instalações sanitárias e outros estabelecimentos. Iniciaram-se os trabalhos para a electrificação do campo.
Este enorme trabalho criador foi interrompido pelo pérfido ataque da Alemanha nazifascista.
O nazifascismo foi derrotado e a guerra terminou em 1945, mas as suas consequências foram terríveis numa vastidão imensa do território da União Soviética com grande incidência nas zonas rurais. Basta lembrar que mais de 70 mil aldeias foram completamente arrasadas e milhões de hectares de culturas destruídas.
Mas tudo foi reerguido. No total a área semeada em todo o país passou de 113,8 milhões de hectares em 1945 para 146,3 milhões em 1950 e recolheram-se duas vezes mais cereais.
Por outro lado, em 1969 trabalhavam nos kolkhozes do país 117 mil agrónomos, 70 mil zootécnicos, 23 mil veterinários, 47 mil engenheiros e técnicos.
O sonho de Lénine era o fornecimento de 100 mil tractores que pudessem ajudar os camponeses a acreditar na força da propriedade colectiva. Nos finais de 1974, na agricultura da URSS trabalhavam dois milhões e 289 mil tractores, 665 mil ceifeiras-debulhadoras, mais de um milhão e 300 mil camiões.
Em 1974 nas localidades rurais havia 114,4 mil clubes, 94,5 mil bibliotecas e cerca de 130 mil instalações cinematográficas. Quase metade da população activa tinha instrução superior ou secundária, completa ou incompleta, enquanto em 1940 a possuíam apenas uma em cada 16 pessoas e na Rússia czarista, em algumas regiões, o analfabetismo rondava os 100%.
A União Soviética, o povo soviético, sob a direcção do Partido Comunista da União Soviética, alcançava assim grandes êxitos e conquistas no domínio da agricultura e do mundo rural que permitiram garantir a soberania alimentar e o desenvolvimento com progresso e justiça social.