Por falar de estratégias
Quase dois anos depois de ter perdido a maioria que detinha com o CDS na Assembleia da República o PSD continua tão ressabiado e em estado de negação que aparentemente nem se dá conta das suas contradições e tiros no pé sempre que um seu dirigente abre a boca. Desde Passos Coelho, que depois de meses a fio a anunciar a inevitável a chegada do «diabo» com a «catastrófica» inversão de políticas fez uma pirueta de 180.º para chamar a si e ao seu governo os resultados positivos registados na economia, até às recentes declarações do líder parlamentar do PSD, a deriva está à vista.
Reagindo a uma entrevista do primeiro-ministro, neste fim-de-semana, Hugo Soares desdenhou da «grande fezada» de António Costa, como lhe chamou Jerónimo de Sousa, na possibilidade de um pacto com o PSD sobre investimentos públicos, preferindo voltar à carga com as lamúrias sobre a ruptura da tradição dos «consensos ao centro» para a viabilização de governos. De uma penada, deixou claro, uma vez mais, que para o PSD a «democracia» significa ignorar e marginalizar o PCP e os votos que os cidadãos lhe confiam, que a representação na Assembleia da República é de primeira ou de segunda conforme se situe à direita ou à esquerda, e sobretudo que depois do discurso do «vem aí o diabo» o PSD só consegue matraquear a tecla do «falta uma estratégia» para o País.
Para quem teve como estratégia a destruição da estrutura produtiva nacional, de empregos, salários, pensões, a flexibilização das leis laborais, pauperização dos portugueses, etc., etc., e por isso mesmo foi derrotado, uma tal acusação é pelo menos esdrúxula numa altura em que os portugueses começam a sentir o resultado da reversão dessa mesma estratégia. Ao contrário de Maria Luís Albuquerque, que em Janeiro de 2015 dizia ver no trânsito os sinais de recuperação económica e a prova de que os «sacrifícios estavam a valer a pena», o que os portugueses vêem é que vale a pena prosseguir no caminho da mudança política e que a diferença está nos que fazem a diferença.