Liberdades

Seria de esperar que esta coluna se debruçasse, esta semana, sobre a Venezuela, mas não sendo exactamente sobre isso, não deixa de ser sobre liberdade. L-i-b-e-r-d-a-d-e. Esse conjunto de caracteres que tem enchido páginas de jornais, mas cujo conteúdo se parece ter eclipsado algures na impressão.

Liberdade de imprensa, liberdade de informar, de se informar e de ser informado, sem impedimentos nem discriminações, como diz a nossa Constituição, e que consagra ainda a possibilidade de expressão e confronto das diversas correntes de opinião. Onde andam todas estas dimensões da Liberdade nas páginas nos jornais portugueses? O que fizeram os directores de jornais e de informação à Constituição da República Portuguesa? Senhores que andam tão preocupados com a Constituição (que ignoram ou desconhecem) e a liberdade na Venezuela.

Assumir posições e defender a liberdade requer coragem e espinha dorsal, enfrentando preconceitos e julgamentos sentenciadores porque não se alinha de acordo com a ideologia dominante, acusações de que se é «anti-democrata», acusações em formato de notícia, de editoriais, de barómetros da semana, em dezenas e dezenas de artigos de opinião. Isto serve para os partidos como para os jornalistas. Liberdade é também discordar e ter uma visão crítica sobre uma comunicação social que ainda recentemente noticiou a queda que nunca existiu de um avião em Pedrógão.

Mas, como dizíamos, esta coluna esta semana não é sobre a Venezuela. Já várias vezes nos debruçámos sobre o espaço do comentário na comunicação social, recurso fácil para condicionar opiniões, sem os «espartilhos» da deontologia. Mesmo tratando-se de espaços de opinião, isso não isenta nem o comentador nem quem lhe dá abrigo dos mínimos de seriedade.

Temos assistido semanalmente àquilo a que um canal de televisão designa de «a opinião que conta». Nesse espaço é feita uma análise «às candidaturas mais relevantes» na chamada «operação autárquicas». Já não nos referimos ao facto de tal comentador passar metade da semana a fazer apresentações de candidatos do PSD, para depois ao domingo dar «a opinião que conta», mas o mínimo de higiene recomendaria, pelo menos, que não se omitisse sistematicamente alguns candidatos, particularmente os da CDU. Foi assim nos casos de Lisboa, Matosinhos, Covilhã, Oeiras. Em todos estes concelhos a CDU tem vereadores eleitos, por vezes, mais eleitos do que as candidaturas referidas no quadro «das mais relevantes» – por exemplo, em Lisboa refere-se o CDS (1 vereador), e não se refere a CDU (2 vereadores).

Evidentemente procedeu-se ao protesto dirigido à entidade competente que é agora a ERC. Em devido tempo criticámos a transferência da competência destas matérias em período eleitoral da CNE para a ERC. Conhecemos o longo acervo de arquivamentos desta última. Assim foi mais uma vez; já que está em causa um espaço de opinião, pouco importa que se omita candidaturas, no telejornal, em sinal aberto, a curta distância das eleições: é a «liberdade» de expressão.

Num destes dias, podia ouvir-se um editor de questões internacionais dizer que uma das «deformações» da Assembleia Nacional Constituinte venezuelana é a representação dos sectores, e enumerava: operários, agricultores, pescadores, estudantes, indígenas, pessoas com deficiência, pequenos empresários, para concluir que são tudo sectores que apoiam Maduro, condicionando, assim, a «liberdade» dos venezuelanos, para a qual é fundamental a representatividade do que estava em falta: os monopólios (dizemos nós).

L-i-b-e-r-d-a-d-e. De facto, neste pequeno conjunto de caracteres cabe muita coisa.

 



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