Um mundo livre de armas nucleares

Gustavo Carneiro

As bombas hoje existentes são muito mais potentes do que as utilizadas em 1945

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Todos os anos, no início de Agosto, milhões de pessoas evocam em todo o mundo os bombardeamentos nucleares de 1945 sobre Hiroxima e Nagasáqui. Fazem-no determinados a que a recordação desse bárbaro crime cometido pelos EUA (que mais do que a derradeira barbaridade da Segunda Guerra Mundial foi a primeira iniciativa da Guerra Fria, contra a União Soviética) contribua de alguma forma para impedir a sua repetição.
Dizemos «repetição» com plena consciência de que um ataque nuclear cometido hoje não se limitaria a replicar o imenso horror vivido nas duas cidades japonesas (nas quais perderam a vida centenas de milhares de pessoas, sofrendo muitas outras até aos nossos dias os efeitos da radiação), antes o multiplicaria por muito, dada a potência das actuais bombas. Já a dimensão e proliferação dos arsenais existentes faria da resposta que se seguiria a esse primeiro ataque atómico um verdadeiro holocausto nuclear.
Actualmente, nove países detêm armas nu-  cleares, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais Israel, Índia, Paquistão e República Popular Democrática da Coreia (das mais de 16 mil ogivas existentes, cerca de 15 mil estão nas mãos de norte-americanos e russos); outros cinco – Bélgica, Alemanha, Itália, Holanda e Turquia – acolhem armas nucleares dos EUA no seu território e dezenas de outros pertencem a alianças militares com capacidade e «vocação» nuclear, como é o caso da NATO. Portugal é um deles. Os EUA há muito que gastam mais no seu arsenal do que os restantes oito países juntos, ao mesmo tempo que assumem, sozinhos, mais de um terço das despesas militares mundiais: os três países que se seguem – China, Arábia Saudita e Rússia (por esta ordem) – não chegam, juntos, a metade do valor gasto pelos Estados Unidos.
Recentemente, a administração norte-americana decidiu investir mais de um milhão de milhões de dólares no chamado «programa de revitalização atómica», que visa o desenvolvimento de armas nucleares mais sofisticadas e «inteligentes», menores e mais difíceis de detectar. Preocupante é também a instalação dos sistemas de «escudo anti-míssil» na Europa Oriental e Extremo Oriente, com os quais EUA e NATO pretendem garantir o monopólio da utilização de armamento nuclear. Se a tudo isto somarmos uma análise objectiva à situação internacional actual, marcada pelo aumento da agressividade do imperialismo face à Rússia e à China ficamos com uma ideia aproximada dos riscos existentes para a paz.

Significado profundo
Mas a guerra não é inevitável e os povos têm sempre a última palavra! No pós-Segunda Guerra Mundial, o poderoso movimento da paz então surgido, impulsionado pelo papel determinante da União Soviética e dos comunistas na vitória sobre o nazi-fascismo, conseguiu travar os mais agressivos ímpetos do imperialismo norte-americano, forçando-o a aceitar compromissos visando o desanuviamento e o desarmamento: são exemplos maiores o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, de 1968, e a Acta Final da Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa, de 1975.
O desaparecimento da URSS e de outros países do sistema socialista, provocou um súbito e acentuado desequilíbrio a favor do imperialismo, que este aproveitou para estender o seu domínio a praticamente todo o globo. A proliferação de guerras, a instalação de bases e instalações militares em todos os continentes, a chantagem e pressão sobre países e povos e o desenvolvimento e proliferação e mais e mais sofisticadas armas de destruição massiva são as consequências mais visíveis.
Mas a aspiração dos povos à paz mantém-se. E as vitórias acontecem. No passado dia 7 de Julho, a Conferência das Nações Unidas para a negociação de um Tratado de Proibição das Armas Nucleares, na qual não participou nenhuma das potências nucleares  e apenas um dos membros da NATO, aprovou o primeiro tratado multilateral sobre esta questão desde 1968. Independentemente dos mais que certos obstáculos que encontrará no caminho da sua implementação, este tratado dá expressão formal ao conceito de mundo livre de armas nucleares, isolando ainda mais os que, como os EUA, fazem do poderio militar um instrumento de domínio e submissão de países e povos.
A proibição das armas nucleares e o desarmamento continuam a ser causas prementes e mobilizadoras.

 



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