Imperialismo e anticomunismo nos media

Um subdirector de um jornal diário nacional partilha um artigo de um colunista da sua publicação numa rede social na internet. Seria um caso comum se não se tratasse de uma peça de ódio e preconceito anticomunista, pretendendo equiparar comunismo e fascismo, e se o próprio responsável não lhe tivesse acrescentado um pequeno comentário: «Tem tanta razão, o João Miguel Tavares.»

Em causa está uma peça de opinião que saiu na última página do jornal em que, partindo do acto anual da Embaixada da Venezuela que assinala a independência do país e de uma acção de solidariedade com o povo venezuelano e de condenação das tentativas de ingerência na pátria de Bolivar, o autor diz que «não há qualquer diferença no nível de abjecção entre ver João Oliveira no meio da rua a defender Maduro ou o líder do PNR a defender o fascismo».

O presidente do grupo parlamentar do PCP esteve presente (aliás, como deputados de outros partidos), em coerência com a posição dos comunistas portugueses relativamente a este e a outros países. E a tese do colunista também não é nova, nem é a primeira vez que a replica – talvez ignorando que esse é um insulto que os comunistas ouvem há quase um século.

Curiosamente, o cronista só soube da iniciativa porque a Agência Lusa enviou ao local um jornalista que, ao contrário do que seria exigível, deu maior destaque a uma acção de um elemento provocador que às iniciativas em si.

Fazendo tábua rasa de toda a História dos últimos 100 anos, continuam a ser os mais empenhados escribas na defesa dos objectivos e acção do imperialismo a repetir a cartilha anticomunista, ao mesmo tempo que condenam países à inevitável condição de «quintal dos Estados Unidos» (como agora com a Venezuela e, por extensão, toda a América Latina) ou que titulam textos seus com «Obrigado, troika» (em 2014, falando de Portugal).

Mas voltemos ao início. A gravidade da situação em análise extravasa o autor do texto a partir do momento em que um diário nacional o dá à estampa e, por cima, tem um seu subdirector a concordar explicitamente com a frase lapidar. Ficámos, assim, a saber que a opinião é partilhada por responsáveis editoriais e isso talvez ajude a explicar o porquê de esse mesmo jornal, semana sim, semana sim, alinhar com as intenções ingerencistas na Venezuela. Ainda esta semana, o mesmo subdirector escrevia, em editorial: «O que a Venezuela precisa, e depressa, é de se livrar de Maduro e de conseguir um governo respeitado e respeitável – para poder atrair a ajuda internacional que é essencial de forma a garantir alguma viabilidade financeira.»

Mas, como fiéis correias de transmissão do sistema, não podem dar ponto sem nó, ou seja, não se pode falar da Venezuela (ou de qualquer outro tema) sem atacar o PCP. E essa prática, demonstra o próprio subdirector, está instalada nas direcções editoriais da nossa imprensa.

Talvez por isso não cheguem notícias da Ucrânia e de outros países, onde são ilegalizados partidos comunistas – quando não do comunismo, como se a aspiração de libertação da exploração do homem pelo homem fosse ilegalizável.

 



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