Depois da greve geral a luta continua no Brasil

GREVE GERAL «Hoje, o grito da classe trabalhadora ocupou as ruas do país inteiro». As palavras do coordenador do MTST, Guilherme Boulos, sintetizam o resultado da greve geral de 30 de Junho, no Brasil.

Estamos enfrentando um dos maiores golpes dos últimos 20 anos

Na concentração que encerrou a jornada de luta na capital paulista, mais de 40 mil pessoas reafirmaram a sua disposição em prosseguir o combate contra o golpe e contra a retirada de direitos que o governo golpista de Temer pretende levar a cabo com a chamada Reforma Trabalhista.

O dia ficou marcado em todos os estados e no Distrito Federal pela paralisação dos mais diversos sectores, para além das manifestações e outras acções de rua. Segundo a Frente Brasil Popular, que convocou os protestos juntamente com as centrais sindicais e Frente Povo sem Medo, as tácticas mais utilizadas pelas organizações sindicais e movimentos sociais para dar visibilidade à luta e pressionar os deputados foram acções como o corte de avenidas, rodovias e ocupação de espaços públicos. A luta já está a ter consequências positivas: para o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, os senadores «estão com medo» da força que se faz sentir nas ruas. «Eles iam votar dia 6 e adiaram, eles estão com medo. Isso está acontecendo porque a gente não deixa esfriar, todo dia tem acto no Brasil. A greve foi forte no Brasil inteiro e mostrou a força da classe trabalhadora», afirmou.

O desafio agora, disse ainda o dirigente sindical em São Paulo, é aumentar a pressão sobre senadores para derrotar definitivamente a Reforma Trabalhista. «Estamos enfrentando um dos maiores golpes dos últimos 20 anos. Estamos resistindo com força, garra e luta. Já convoco aqui, vamos para Brasília no dia da votação».

Bispos solidários
A jornada de dia 30 teve o apoio da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que na véspera da greve geral divulgou uma nota oficial em que afirma tratar-se de uma «mobilização legítima, amparada pela Constituição, e que expressa a resistência cidadã às reformas propostas pelo governo federal ao Congresso Nacional, ambos, Executivo e Legislativo, imersos em grave crise ética e política, com baixíssimas taxas de aprovação popular e que, afinal, jamais debateram com a sociedade brasileira, especialmente com os trabalhadores e suas entidades sindicais, nem submeteram essas propostas ao crivo do voto popular».

Entre outros aspectos, a Reforma Trabalhista retira direitos a grávidas e lactantes, faz depender as indemnizações por assédio do salário auferido, retira às mulheres o direito ao descanso antes de iniciar trabalho extraordinário, institui a jornada de trabalho de 12 horas e consagra o trabalho intermitente em que o trabalhador, sem vínculo nem horário, fica à disposição da entidade patronal 24 horas por dias e só aufere as horas trabalhadas.

Entretanto, no dia 29, teve início uma greve por tempo indeterminado em 10 refinarias da Petrobras, contra a redução de postos de trabalho sem qualquer negociação com os sindicatos. Segundo a Federação Única dos Petroleiros, as medidas que o governo golpista de Temer quer impor ao sector afectarão directamente as condições de trabalho e farão aumentar os riscos de acidentes de trabalho.

Renan Calheiros arrependido do golpe

O senador Renan Calheiros renunciou na passada quarta-feira, 28, à liderança do PMDB e reconheceu que o impeachment da presidente eleita Dilma Rousseff «foi um erro» pelo qual o Brasil está a pagar caro. No discurso de renúncia e nas entrevistas posteriores, Calheiros, que votou a favor da destituição de Dilma, não hesita em afirmar que se tratou de uma «estratégia de Eduardo Cunha para governar às costas do Michel [Temer]».

«Não sei quanto tempo ainda vai durar o actual governo, mas as forças políticas responsáveis precisam dialogar em busca de uma saída. A crise está chegando a seu limite», afirmou ainda Renan Calheiros, que acusa Eduardo Cunha, actualmente na prisão, de continuar a dar cartas no governo de Temer. Não houve reacções do executivo a estas declarações. Vale a pena lembrar que Calheiros repete com Temer o procedimento que adoptou em relação ao também destituído presidente Collor de Mello, com o qual rompeu antes do impeachment, em 1992.




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