Cortes contraproducentes
O instituto de investigação económica alemão (DIW) concluiu que a política de austeridade aplicada entre 2010 e 2014 foi «contraproducente» agravando a recessão.
Os cortes na despesa geraram mais recessão
Num estudo, divulgado dia 22, sobre os efeitos das chamadas políticas de austeridade em Portugal, Espanha e Itália, o DIW salienta que os cortes «drásticos» na despesa pública neutralizaram os efeitos das reformas estruturais (cortes nos direitos laborais e sociais), agravando a recessão nos três países analisados.
O falhanço da consolidação orçamental não resultou portanto da falta de reformas, mas antes foram resultado destas.
Como explicam os economistas responsáveis pelo estudo, o agravamento das condições financeiras forçou as famílias a destinar uma maior parte dos rendimentos para pagar as hipotecas, sobretudo de habitação.
A diminuição do rendimento disponível gerou uma contracção do consumo das famílias. Como se não bastasse, o governo «aumentou os impostos e cortou a despesa», o que só amplificou o efeito depressivo sobre a economia, afirma Mathias Klein, um dos autores do estudo.
«A forte queda do consumo privado reduziu o Produto Interno Bruto (PIB) e elevou a já de si elevada taxa de desemprego», acrescenta o economista.
Deste modo, em vez de contribuir para a redução da dívida soberana, o seu principal objectivo declarado, a «austeridade» teve o efeito contrário. Isto porque ampliou os efeitos da recessão, reduziu o potencial produtivo a longo prazo, provocou o disparo do desemprego, que já era elevado devido à crise (especialmente o desemprego de longa duração), e desincentivou o investimento em investigação e desenvolvimento.
Na opinião de Philipp Engler, o segundo co-autor do estudo, teria sido melhor uma recuperação «muito lenta», considerando que «a consolidação orçamental não tem qualquer hipótese de êxito num ambiente assim».
«Uma combinação mais equilibrada de medidas, com ajustamentos orçamentais moderados, reformas estruturais e uma aposta orçamental no investimento», teria tido um efeito mais positivo sobre a economia, afirmam os autores do estudo.
De crise em crise
Por outro lado, os autores concluem que as recessões levam a uma redução permanente na produtividade que diminui o potencial de crescimento. Este efeito é essencialmente explicado pela «perda de conhecimentos (“know-how”) da força de trabalho durante longas fases de desemprego».
Os impactos económicos das apregoadas reformas estruturais também não são desprezíveis.
Recentes estudos científicos mostram que «as reformas estruturais levam a uma quebra no PIB – pelo menos a curto prazo».
No caso de Espanha, Itália e Portugal, a interacção entre as medidas de austeridade e as reformas estruturais «geraram uma espiral» recessiva e «continuaram a aumentar a dívida soberana – o oposto do que se pretendia».