Com as calças do meu pai...
Uma reportagem no canal público de televisão trouxe-nos novas da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Eu que tive o trabalho de ver a peça de princípio ao fim, fiquei de queixo caído tal o nível do frete que ali se fez àquele-que-quer-ser-candidato-a-Lisboa-mas-diz-que-não-quer-porque-sabe-que-nem-os-seus-correlegionários-o-querem.
Para assegurar que passava a ideia geral «antes de mim era o caos e agora é o paraíso», andaram de serviço em serviço, ouviram utentes dizer maravilhas e o próprio a vangloriar-se dos bons serviços prestados à congregação.
O jornalista, cioso do seu dever de bem dizer, enfeitava as imagens com epítetos do género «PSL toma um pequeno almoço rápido, que o serviço é muito», ou «assegura que tudo corre bem».
Ainda que saibamos o que a casa gasta, não podemos deixar de estranhar que um qualquer jornalista não tenha colocado três questões simples numa reportagem sobre a SCML.
Em primeiro lugar, e porque a reportagem andou cheia dos sentimentos da caridade e do amor pelo bem fazer aos outros, não se lembrou o jornalista de perguntar em quanto é compensado PSL por esse empenho e dedicação solidária. Pelos vistos, o principesco salário do senhor Provedor é tema tabu.
Em segundo lugar, sabendo que para assegurar tantas respostas sociais é necessário um pequeno exército de trabalhadores, é estranho que não se tenha procurado saber junto destes e dos seus representantes sindicais como estão as relações laborais naquela instituição, e tentar perceber por que é que se vêm desenvolvendo processos de luta, com grande adesão, a dar bem o sinal da rejeição da ofensiva a que estão sujeitos contra os seus direitos.
E por último, tendo presente o que se falou sobre meios financeiros envolvidos e sobre a estabilidade financeira da instituição, não ficaria mal saber, para lá do exclusivo dos jogos de azar que, durante décadas, asseguraram à SCML meios avultados para as suas acções, quanto é que sai dos cofres da Segurança Social para que PSL possa aparecer armado em bom gestor.
Lembrou-me logo o velho provérbio popular: «Com as calças do meu pai, também eu era um homem!»