Sobre a situação na Justiça

António Filipe (Membro do Comité Central)

A crise económica e social que o nosso País enfrenta há longos anos em resultado das políticas de direita reflecte-se na situação da Justiça. A garantia que a Constituição consagra do acesso de todos ao Direito e aos tribunais para defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos está muito longe de ser uma realidade.

A maioria da população não tem meios económicos para suportar os custos e a demora de um processo judicial. A Justiça no nosso País não é célere, não é acessível, não é igual para todos, e assim sendo, não é Justiça.

Faltam no nosso País funcionários e magistrados em número suficiente para um funcionamento eficiente dos tribunais. Falta um sistema de acesso ao direito e aos tribunais que garanta o acesso à Justiça a quem a vê negada por falta de recursos económicos.

Os últimos anos de governação PSD/CDS tiveram efeitos desastrosos no sistema de Justiça.

O colapso do sistema informático dos tribunais e um mapa judiciário que determinou o encerramento de 20 tribunais e a transformação de mais 27 em meras secções de proximidade foram imagens marcantes do desastre.

Acresce a tudo isso a falta de investimento nos meios humanos, materiais e periciais da Polícia Judiciária, com graves consequências sobretudo na investigação da criminalidade económica e financeira, cuja impunidade continua a ser um escândalo nacional; a falta de investimento no sistema prisional a funcionar em condições indignas; o recurso aos mecanismos de mediação, de arbitragem e de privatização da administração da Justiça, acentuando as desigualdades perante a lei; os ataques à independência do poder judicial e à autonomia do Ministério Público.

No último ano, com uma contribuição decisiva do PCP, foi decidida a reabertura dos tribunais encerrados. 47 municípios que tinham ficado sem tribunais voltam a ter julgamentos no seu território. Foram abertas perspectivas de desbloqueamento das carreiras de funcionários judiciais e dos registos e notariado. No Orçamento do Estado para 2017, por proposta do PCP, foi travado o aumento das custas judiciais.

Mas camaradas, estes são pequenos passos do muito que é preciso caminhar para enfrentar os problemas estruturais da Justiça e que só nos encorajam para continuar a luta.

O caminho que está por fazer far-se-á com a luta do povo português, com o PCP, pela garantia do acesso de todos ao direito e aos tribunais; pelo investimento necessário nos meios humanos e materiais afectos à aplicação da Justiça; por estatutos dignos das carreiras dos juízes, dos magistrados do Ministério Público, dos funcionários judiciais, do pessoal dos registos e notariado, da Polícia Judiciária, da reinserção e serviços prisionais; pela criminalização do enriquecimento injustificado, dando combate à corrupção, ao crime económico, à promiscuidade entre o poder político e o poder económico, cuja impunidade é um sério factor de descrédito na Justiça. A luta continua, pela Justiça, pela igualdade, pela dignificação do Estado de Direito Democrático.




Mais artigos de: Em Foco

Intervenções no XX Congresso

Prosseguimos neste número a publicação de intervenções e saudações proferidas no XX Congresso do PCP, realizado em Almada de 2 a 4 de Dezembro. Subtítulos da responsabilidade da Redacção

Sobre Segurança Interna

Falar da Política de Administração Interna e da segurança dos cidadãos é falar da consequência de 40 anos de política de direita. É falar de opções visando alterar o quadro conceptual e organizativo, dando...

Onde há um comunista<br>há um agitador

No período decorrido desde o último Congresso do nosso Partido houve um elemento sempre presente: a luta da juventude. Foi com a luta que derrotámos o governo do PSD/CDS. Vencemos. É pela luta que nesta nova fase da vida política nacional lá vamos!...

Os sectores estratégicos<br>da nossa economia

A Constituição da República Portuguesa (CRP) estabelece no n.º 3 do seu artigo 86.º: «a lei pode definir sectores básicos nos quais seja vedada a actividade às empresas privadas e a outras entidades da mesma natureza». Essa...

Sobre a Cultura / Política cultural

A concepção que temos da cultura, e a importância que lhe damos, encontra-se inscrita no Programa do Partido. Uma cultura enraizada no povo, nas suas vivências e participação. A cultura como componente essencial da democracia, com a...

Sobre o sector financeiro

Em Portugal, a banca, desde a sua privatização, distribuiu milhares de milhões de euros em dividendos. Só entre 2000 e 2014, a banca distribuiu 8,5 mil milhões de euros em dividendos aos accionistas. No entanto, os resultados líquidos foram caindo a...

O Movimento associativo<br>e popular

Constituído por cerca de 30 000 colectividades e associações, 425 000 dirigentes e mais de três milhões de associados, o Movimento Associativo Popular é uma realidade profundamente enraizada e estruturada em todo o território nacional,...

Desenvolvimento equilibrado<br>do País

Afirmamos, porque é uma realidade, que Portugal é um País rico em recursos, a começar pelo seu território e pelo seu povo. Mas Portugal foi ao longo dos anos tornando-se mais pobre, mais injusto, desigual e menos desenvolvido. Assistimos a uma...

Política ambiental e defesa<br>da água pública

Como se afirma nas teses, as questões ambientais assumem hoje uma importância na vida e nas relações internacionais. Face à importância e finitude de recursos, as grandes potências fazem destas questões factores de disputa económica,...

Política fiscal

Os impostos têm como objectivo central o financiamento do Orçamento do Estado e das escolhas políticas, económicas e sociais. Mas os impostos também devem ter uma função redistributiva, promovendo escolhas que garantam uma...

As organizações de base<br>– Células de empresa

No projecto de resolução política do nosso Congresso reafirmamos a prioridade fundamental que atribuímos à organização e intervenção do Partido nas empresas e locais de trabalho. Não é nova esta...