Diálogo à mesa
A mesa de diálogo entre o governo venezuelano e a auto denominada Mesa da Unidade Democrática (MUD) começou a funcionar esta segunda-feira, 31 de Outubro, no Museu Alejandro Otero, em Caracas.
Caminho encetado esta semana não é uma tarefa fácil
Na véspera, em declarações à imprensa, o presidente constitucional Nicolás Maduro considerou que «não há alternativa» ao diálogo agora iniciado, sublinhando que esta é uma oportunidade para «desarmar o ódio». Maduro manifestou ainda o seu empenho em encontrar soluções para os problemas que afectam a maioria dos venezuelanos num contexto polarizado entre os «que têm e os que não têm».
O processo agora iniciado é o resultado de diligências iniciadas em Janeiro pelo presidente venezuelano e desenvolvidas desde meados de Maio pela União das Nações Sul-americanas (Unasur), com a mediação da Igreja Católica. Na instalação da mesa de diálogo participaram, para além do secretário-geral da Unasur, Ernesto Samper, os ex-presidentes José Luis Rodríguez Zapatero (Espanha), Martín Torrijos (Panamá) e Leonel Fernández (República Dominicana), e ainda os prelados Emil Paul Tscherring, em representação do Vaticano, e Claudio María Celli, ex-presidente do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais. Representaram o governo a ministra Delcy Rodríguez, o presidente da capital, Jorge Rodríguez; o deputado à Assembleia Nacional pelo Partido Unido da Venezuela, Elías Jaua, e o ex-embaixador na Organização dos Estados Americanos, Roy Chaderton. Pela MUD estiveram o respectivo secretário-geral, Jesús Torrealba, e representantes da todas as forças da coligação, com excepção do partido Voluntad Popular, apontado como principal impulsionador da violência que tem assolado o país, por considerar que «não estão reunidas as condições».
Violência gera violência
O início das negociações, após uma semana de intensas manobras falhadas da oposição para «paralisar» o país e «tomar de assalto» a capital – incluindo uma «greve geral» sem adesão – é vista em Caracas como uma atitude corajosa de Nicolás Maduro e um «estender de mão» à oposição, numa altura em que as sondagens revelam o repúdio generalizado da população pela violência e o apoio a conversações entre governo e oposição.
Isso mesmo foi enfatizado pelo representante do Vaticano ao advertir que «violência gera mais violência» e ao defender o diálogo. Ainda que represente um grande desafio, o «diálogo promete construir um bem comum», disse o prelado, citado pela Prensa Latina, sublinhando que o caminho encetado esta semana «não é uma tarefa fácil» e que o país espera sinais significativos para comprovar que o diálogo é uma realidade.
Também a ministra Delcy Rodríguez considerou que apesar da atitude da direita nacional e internacional o processo «é importante para o entendimento e deve ser um marco no respeito pela soberania nacional».
Do mesmo modo, Ernesto Samper apontou o diálogo como o «único caminho para superar as diferenças», aplaudindo «este primeiro passo que levará os venezuelanos a construir um país de paz».