Desespero no sector do leite
A crise no sector do leite continua sem fim à vista, devido aos baixos preços pagos na produção, às penalizações que são aplicadas pelos compradores e aos elevados preços dos factores de produção.
«Não pode ser apenas a produção a sofrer as consequências da crise»
O alerta é feito pela Associação Portuguesa de Produtores de Leite e Carne (APPLC), que alerta para «momentos de grande desespero», com os produtores a terem de abandonar a actividade produtiva. Os outros «vão resistindo», com a sua «situação económica a agravar-se permanentemente devido às enormes dificuldades em assumir os compromissos bancários contratados».
Em comunicado, divulgado no início do mês, a associação filiada na Confederação Nacional da Agricultura (CNA) reconhece «o esforço que está a ser feito pelo Governo no sentido de ajudar a enfrentar estas dificuldades financeiras» e «a posição assumida pelo ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural», quando defendeu «a regulação pública da produção nos países do espaço europeu».
«Sendo positiva esta linha de apoio aprovada pelo Governo, que deve chegar o mais rápido possível aos produtores e produtoras, também é verdadeiro que não resolve o problema, apenas o minimiza», afirma a APPLC, que defende, entre outras medidas, «a regulação pública da produção» e o «regresso ao sistema de quotas ou outro qualquer sistema que tenha o mesmo efeito».
A associação reclama, ainda, medidas suplementares que levem «as grandes superfícies comerciais a terem mais respeito pela produção nacional e pelos interesses do País». O mesmo deve acontecer com a «indústria» e as «cooperativas compradoras», que deverão cumprir o seu papel de escoamento da produção e da garantia de preços justos aos produtores».
A APPLC exige, por outro lado, o «fim das penalizações aplicadas aos produtores de leite que ultrapassem as quantidades máximas que lhes foram impostas pelos compradores a pretexto dos “contratos” que fizeram em situação muito desvantajosa» e a «rápida devolução, em dinheiro, aos produtores da franquia dos dois cêntimos por quilograma que tem sido descontada e retida pelos compradores».
Compromissos fundamentais
A Associação Portuguesa de Produtores de Leite e Carne (APPLC) reclama o empenhamento do Governo português em procurar «obter compromissos com outros governos para conseguir uma maioria que permita voltar ao sistema de regulação da produção nos países do espaço europeu», mas também «outros mercados internacionais» e «condições de disciplina interna e de respeito pela produção nacional e pelos superiores interesses do País».
Ao Ministério da Agricultura, Floresta e Desenvolvimento Rural e aos compradores exige-se, por outro lado, «condições para a urgente subida dos preços à produção como condição necessária e indispensável à real melhoria da situação e consequente ultrapassagem da grave crise que a produção enfrenta».
«Os produtores não aguentam mais esta situação e vão continuar a protestar até verem resolvidos os seus problemas. Estes protestos, que têm tendência a aumentar, não serão contra ninguém, apenas têm como objectivo alertar para a necessidade de todos assumirem compromissos, porque não pode ser apenas a produção a sofrer as consequências da crise», acentua a associação. Os protestos servem ainda para que o ministro da tutela «sinta suporte de apoio para poder defender com mais força os interesses do País junto de Bruxelas».
Para a APPLC, também a Associação Interprofissional do Leite e Lacticínios «não pode continuar a ser apenas um espaço de debate», devendo «começar a assumir outras responsabilidades e garantir o seu dever na resolução de problemas e conflitos», como «debater políticas de preços e criar consensos nos contratos a serem assinados, definir políticas e encontrar medidas e soluções para atacar as dificuldades e os problemas do sector em momentos de crise como este».
Por último, a associação criticou o problema criado aos produtores com a suspensão do Sistema de Recolha de Cadáveres de Animais Mortos na Exploração (SIRCA), que «acarreta mais despesa para o sector e pode originar sérios problemas ambientais e preocupantes implicações na saúde pública».
CNA alerta para (hiper) demagogia
A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) acusou, uma vez mais, os hipermercados de praticarem uma autêntica «ditadura comercial» que esmaga, em baixa, os preços à produção nacional, enquanto promovem importações desnecessárias e sem controlo eficaz.
Estas grandes cadeias comerciais «usam e abusam» de práticas comerciais, que a CNA considera serem «mais do que abusivas», como acontece constantemente com as «promoções» e as «marcas brancas», espoliando os fornecedores de «direitos de propriedade material e intelectual sobre os respectivos produtos».
A confederação critica, de igual forma, o aproveitamento da «falta de informação» e do «baixo poder de compra de vastas camadas da nossa população» para «manipular preços e marcas e, também assim, acirrar a concorrência entre as várias cadeias de distribuição/comercialização, sempre à custa dos fornecedores e dos próprios consumidores».
«As dificuldades económicas de centenas de milhares de famílias acabam por ser um “filão” que os grandes hipermercados exploram em proveito próprio», refere a CNA, em nota de imprensa divulgada no dia 2.