Testes de resistência à banca europeia
mitigam riscos

Catástrofe anunciada

A Autoridade Bancária Europeia (ABE) revelou, dia 29, os resultados dos «testes de stress» a 51 bancos, que representam 70 por cento dos activos bancários da UE.

Testes não garantem saúde da banca

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A Autoridade Bancária Europeia a ABE verificou igualmente a solidez financeira de 56 outros bancos da zona euro, mas os resultados não foram tornados públicos.

De acordo com o organismo de supervisão, a generalidade dos bancos analisados apresenta solidez suficiente para enfrentar um cenário de recessão económica, disparo do desemprego e queda dos preços do imobiliário.

Com excepção do italiano Monte dei Paschi di Siena, fundado em 1472 e considerado o mais antigo do mundo em actividade, e do irlandês Allied Irish Banks, todos os outros cumprem os critérios mínimos estabelecidos.

Segundo a ABE, o sector ganhou robustez com o reforço de capitais próprios, efectuado desde o último teste, em 2014.

Em teoria, a relação entre capitais próprios e créditos concedidos permitiria aos maiores bancos europeus acomodar prejuízos inesperados, decorrentes de um agravamento da situação económica, sem entrarem em ruptura.

Todavia, apesar de os governos se terem congratulado com os resultados dos testes, alguns observadores questionam tal optimismo, lembrando que já anteriormente a perícia da ABE foi incapaz de detectar as verdadeiras fragilidades da banca.

Com efeito, muitas instituições que passaram nos testes efectuados em 2011, 2012 e 2014 vieram depois a necessitar da intervenção dos estados para evitar a falência; outras simplesmente faliram.

O montante astronómico do crédito malparado em Itália (cerca de 360 mil milhões de euros) é por si só revelador das dificuldades que atravessa o sistema financeiro transalpino. Porém, só um banco italiano terá «chumbado» nos testes da ABE.

Um castelo de cartas

Outro caso que levanta as maiores preocupações é o Deutsch Bank, apesar de, segundo a ABE, a instituição cumprir os requisitos europeus.

Na realidade, o colosso alemão entrou em ruptura em 2008 e, como muitos outros bancos, só se manteve à tona à força de injecções de capitais públicos.

Desde então, as acções em bolsa do banco perderam 90 por cento do seu valor, passando de 162 euros para cerca de 14 euros actualmente. Só neste ano, o Deutsch Bank perdeu 45 por cento do seu valor bolsista.

A sua trajectória descendente já foi comparada com o norte-americano Lehman Brothers, um dos maiores bancos do mundo que abriu falência em Setembro de 2008, provocando uma vaga devastadora em todo o sistema financeiro mundial.

Duas semanas antes da catástrofe, todas as agências de notação norte-americanas (S&P, Fitch e Moodys) classificavam o Lehman Brothers com a nota mais elevada (AAA+).

A eventual falência do Deutsch Bank é um cenário que, naturalmente, não foi tido em conta nos testes de resistência da ABE.

No entanto, o balanço do Deutsch Bank é de longe mais impressionante do que o do Lehman Brothers antes de colapsar.

Os activos do Lehman eram de 639 mil milhões de dólares, enquanto o passivo ascendia a 619 mil milhões de dólares. Por outras palavras tinha um endividamento de 31 dólares por cada dólar de capital próprio.

Em Dezembro último, as contas oficiais do Deutsche Bank mostraram um volume de activos de 1,6 biliões de euros e um passivo de 1,56 biliões, ou seja, por cada euro de capital próprio, o banco contraiu uma dívida de 40 euros.

Mais impressionante é o facto de o DB ter 75 biliões de dólares em derivados, ou seja, cinco vezes o Produto Interno Bruto da União Europeia e 20 vezes o PIB alemão. Sozinho, o DB detém 13 por cento do mercado altamente especulativo dos derivados, cujo volume mundial ronda os 550 biliões de dólares.

Por tudo isto, o próprio Fundo Monetário Internacional aponta o Deutsche Bank como o principal factor de risco sistémico entre os maiores bancos mundiais, seguido pelo HSBC e pelo Crédit Suisse.




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