Protestos contra a Lei do Trabalho em França

Projecto inegociável

Milhares de estudantes, trabalhadores e reformados voltaram a manifestar-se, dia 17, por toda a França, exigindo a retirada da nova «Lei do Trabalho».

Sindicatos marcam greves e manifestações para 31

Uma semana depois das massivas manifestações de dia 9, que obrigaram o governo de Hollande-Valls a anunciar algumas concessões, organizações estudantis e os principais sindicatos de França realizaram mais uma jornada nacional de protestos, exigindo a retirada do retrógrado projecto de alteração do Código do Trabalho.

As emendas introduzidas pelo governo, mitigando algumas medidas mais escandalosas, não convenceram os sindicatos. No essencial, o projecto mantém o objectivo de facilitar os despedimentos e alargar o horário de trabalho muito para além das 35 horas semanais.

As associações de estudantes, representadas na União Nacional de Estudantes de França (Unef), paralisaram perto de duas centenas de estabelecimentos de ensino, incluindo a emblemática universidade de Sorbonne, em Paris, onde se realizaram assembleias gerais de estudantes ao ar livre.

Em comunicado, a Unef refere o alargamento do movimento de protesto, calculando que perto de 150 mil estudantes participaram em 97 concentrações e desfiles em todo o país.

Para além da capital, onde se manifestaram dezenas de milhares de jovens, a Unef salienta outros protestos importantes em Rennes, com 12 mil participantes, Lyon, dez mil, ou Toulouse com seis mil.

«Os jovens deram uma resposta clara aos últimos anúncios do primeiro-ministro», afirma a organização, considerando que «mais do que nunca é necessário que o projecto de lei seja retirado para se iniciar uma concertação real em torno das reivindicações dos jovens».

O êxito das duas jornadas parece indesmentível. Depois de ter negociado em segredo a nova «Lei do Trabalho» com a associação patronal (Medef), o governo Hollande-Valls pretendia aprová-la directamente sem negociar com os sindicatos.

Na sequência das manifestações, o governo não só adiou a apresentação oficial do projecto como convocou as centrais sindicais para negociações e não excluiu sequer as organizações estudantis.

Todavia, os sindicatos e as estruturas estudantis reafirmaram que a negociação não pode ser feita na base de um projecto que visa precarizar ainda mais a situação dos trabalhadores e dos jovens.

Para hoje, quinta-feira, 24, data da apresentação do projecto de lei em Conselho de Ministros, as centrais sindicais CGT, FO, FSU e Solidaires, assim como as federações de estudantes Unef, UNL e FIDL têm novas acções marcadas.

Dentro de uma semana, dia 31, a França conhecerá uma grande jornada de luta, em que se espera greves nos diversos sectores de actividade.

Manobra de diversão

Numa tentativa de minimizar o impacto dos protestos e ao mesmo tempo enfraquecer a mobilização dos trabalhadores, o governo francês anunciou, dia 17, aumentos salariais para os funcionários públicos, cujas remunerações estão congeladas há seis anos.

A actualização é de apenas 1,2 por cento, uma fracção da perda de poder de compra que se situa entre os sete e os oito por cento desde 2010. Além disso, a medida não é imediata. Os funcionários terão uma valorização de 0,6 por cento no próximo mês de Julho e outro tanto em Fevereiro do próximo ano, ou seja, já em plena campanha eleitoral das presidenciais.




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