Chumbado acordo à direita
O secretário-geral dos socialistas de Espanha, Pedro Sánchez, fracassou, dia 4, na segunda tentativa para obter o apoio do parlamento à sua investidura como primeiro-ministro.
Acordo PSOE/Ciudadanos criou impasse político
Tal como 48 horas antes, na primeira votação, o acordo entre o PSOE e os Ciudadanos não reuniu o consenso da maioria do Congresso dos Deputados, na segunda e última sessão dedicada à investidura do novo chefe do governo.
Com 219 votos contra e apenas 131 a favor, Pedro Sánchez fica para a história como o primeiro líder partidário a falhar a investidura desde 1979.
Agora, abre-se um novo período de negociações até 3 de Maio. Se até lá nenhum candidato à presidência do governo conseguir o apoio do parlamento, a Constituição prevê a convocação automática de eleições para 26 de Junho.
O fracasso de Sánchez não surpreendeu ninguém. À esquerda do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), todos os partidos rejeitaram o acordo com os Ciudadanos. À direita, com excepção do próprio Ciudadanos, verificou-se o mesmo.
De nada serviram os apelos de Sanchez a Pablo Iglesias (Podemos), nem os de Albert Rivera (Ciudadanos), a Mariano Rajoy (PP).
Para a esquerda a solução governativa proposta não garantia a formação de um governo progressista. Por seu lado, o Partido Popular continua a reclamar o primeiro lugar nas eleições de 20 de Dezembro e o direito de formar governo.
Mão estendida
Na sua intervenção no parlamento, o secretário-geral do Podemos, Pablo Iglesias, instou Sanchez a deixar de tentar a «quadratura do círculo» e a aceitar «negociar um verdadeiro programa progressista». E indicou que o caminho a seguir é formar «um governo à valenciana», aludindo à coligação entre o Partido Socialista de Valência e o Compromis que governa a região.
«A nossa mão continua estendida», disse Iglesias, lembrando que não são só os deputados do PP e do Podemos que se opõem ao pacto com o Ciudadanos: «O acordo PSOE-Ciudadanos também não é apoiado pela IU-UP, PNV, DiL, ERC, EH-Bildu, UPN e Foro Asturias».
Iglesias acrescentou ainda que a situação criada pelo PSOE apenas aproveita ao PP, garantindo que o que preocupa Mariano Rajoy é a possibilidade de um acordo entre o PSOE e o Podemos.
No mesmo sentido interveio o porta-voz da Esquerda Unida (IU-UP) no Congresso, Alberto Garzón, assegurando que não vai «deitar a toalha ao chão», no que toca à formação de um governo «de esquerdas», e apelando ao PSOE para que volte à mesa das negociações.
No entanto, essa possibilidade é cada vez menos provável, em face das posições cada vez mais irreconciliáveis entre o PSOE e os partidos à sua esquerda.
A convocação de novas eleições é a perspectiva mais realista e tanto Garzón como Iglesias já encaram esse cenário. O primeiro não descarta explorar novas «vias de colaboração» eleitoral com o Podemos, desde que as duas formações mantenham a sua identidade. O segundo não recusou a proposta: «Há gente muito valiosa que vem da IU» e «se houver uma campanha eleitoral gostaria de contar com pessoas como Alberto Garzón a meu lado», afirmou, referindo-se ao líder da Esquerda Unida.