Projectos
Nos destroços do «governo PaF» vagueiam bufarinheiros que, no conforto da Assembleia da República, cumprem com estrondo o seu papel, vendilhando não apenas a bugiganga reaccionária em que afogaram o País, mas também exibindo «uma total ausência de projecto», como dizia ironicamente o meu saudoso amigo Leandro Martins.
A insistência desta gente em vestir purezas de vestal só merece lugar no sambódromo do Carnaval do Rio, à la page com as brincalhotices desta época festiva e saracoteando virgindades a granel.
Apresentam-se paladinos dos «pobres» com aumentos de pensões que sempre negaram ferozmente e, pois claro, pedem contas na resolução do Banif como se nada tivessem a ver com o caso – e o caso é que têm a ver tudo, nomeadamente o de andarem a empurrar a questão com a barriga (o Banif foi declarado falido por Bruxelas em 2012, instando desde aí o governo Passos/Portas a «resolver o problema»), enquanto iam injectando largas centenas de milhões de euros num negócio falido para tapar buracos – a maneira mais airosa que encontraram para varrer o problema para debaixo do tapete.
Dados recentes do BdP apontam, entretanto, três mil milhões de euros de prejuízo que a resolução do Banif custará aos cofres do Estado (até ver).
Os agora opositores do PSD e do PP exibem duplicidades constantes e fazem pior: ignoram a sua prática de quatro anos a desmantelar o regime democrático construído com a Revolução de Abril, apostando que o tempo fará esquecer o que, desgraçadamente, está marcado em brasa no corpo nacional.
E essas marcas não desaparecem: veja-se as centenas de milhares de famílias que viram, no coar destes anos de miséria como destino irrefragável, desaparecer mecanismos de protecção na Saúde, no trabalho, no Ensino, na Segurança Social, no atendimento atempado e correcto na miríade de serviços públicos.
Tudo se foi desfazendo em poeira como as casas de adobe, ora desaparecendo o médico de família, o Centro de Saúde e o dinheiro para os remédios, ora verificando-se o encolher dos ordenados, das pensões, dos contratos de trabalho, dos direitos laborais e do próprio emprego, ora descarregando-se sobre os cidadãos, como pragas do Egipto, as hipotecas dos salários e casas ou os arrestamentos de quaisquer bens, tudo desaparecendo no insaciável, e aparentemente impune, Fisco, a quem nunca se viu igual pertinácia despojadora em relação aos detentores de patrimónios obscenos.
A «total ausência de projecto» da direita materializa o seu visceral ódio à democracia e aos direitos democráticos dos cidadãos e da sociedade.
Porque projecto a direita tem, e é sempre o mesmo: a miséria obscurantista, que permite a exploração desenfreada.