Brasil resiste a golpe
A contestação à tentativa de destituição da presidente do Brasil Dilma Rousseff avança e reforça-se. Para ontem, 16, uma frente popular criada por sindicatos e organizações sociais e políticas convocou uma mobilização nacional com o objectivo de protestar contra a iniciativa legislativa patrocinada pela direita, a qual foi aceite, no passado dia 2 de Dezembro, pelo presidente do Congresso Eduardo Cunha. Nas acções de massas, pretendia-se, ainda, exigir a demissão daquele.
Eduardo Cunha tem sido acusado de ter acolhido o pedido de afastamento da chefe de Estado e de Governo como moeda de troca à não investigação das suspeitas de que teria recebido ilicitamente um total de cinco milhões de dólares da Petrobras. O montante terá sido arrecadado na Suíça, tendo as autoridades helvéticas confirmado que o presidente do parlamento detém contas no país.
Calcula-se que o escândalo de corrupção, lavagem de dinheiro e sobre-facturação na petrolífera estatal brasileira, envolva meia centena de deputados e senadores do Brasil, entre os quais Eduardo Cunha, cuja residência foi, anteontem, alvo de buscas por parte da Justiça Federal.
Em defesa de Dilma Rousseff e da democracia, têm-se colocado dezenas de personalidades. Artistas e intelectuais, jornalistas e magistrados, reitores universitários, governadores ou presidentes de câmaras municipais rejeitam a destituição da presidente sustentando que tal significaria um regresso do país ao passado golpista.
Para ontem, estava também previsto que o Supremo Tribunal se pronunciasse sobre a legalidade da aceitação do pedido de impeachement por parte de Eduardo Cunha. A apreciação do Supremo foi suscitada pelo Partido Comunista do Brasil.
No domingo, 13, a direita, e designadamente o maior partido da oposição, o Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB), convocou um protesto nacional contra Dilma Rousseff. Apesar dos preciosos auxílios à mobilização (por exemplo, a administração do metro de São Paulo convocou todos os trabalhadores a prolongarem a jornada laboral ou a fazerem horas extraordinárias para que ninguém ficasse sem transporte para a manifestação), esta revelou-se um fiasco, traduzido não apenas na fraca presença de povo nas ruas, mas também no facto de o candidato do PSDB derrotado por Dilma Rousseff nas últimas eleições presidenciais, Aécio Neves, não ter comparecido, evitando ficar associado a um fracasso.