EUA prolongam presença no Afeganistão

Ocupação sem fim

Os EUA vão manter pelo menos 5500 militares no Afeganistão até 2017. Barack Obama rejeita a ideia de uma guerra sem fim, mas é isso que o prolongamento da ocupação indica.

Em 2017 os EUA já não estarão a coberto de nenhuma missão no país

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A continuação da «missão de treino e aconselhamento» dos EUA em território afegão foi confirmada a 15 de Outubro por Barack Obama, que justificou a decisão com a necessidade de apoiar as forças de segurança de Cabul, as quais «ainda não são tão fortes como deviam», frisou.

O líder norte-americano considerou ainda que o prolongamento da presença militar estrangeira «pode verdadeiramente fazer a diferença» para que o Afeganistão não seja «um refúgio de terroristas», mas rejeitou a ideia de que a quebra da promessa eleitoral, feita em 2008 e reiterada em 2012, de retirar as tropas norte-americanas do país centro-asiático, era o pronúncio de uma guerra sem fim.

De acordo com o último plano de retirada, em 2017, quando o próximo presidente já estiver eleito, os EUA deveriam ter apenas mil militares no Afeganistão. Ao invés, permanecerão no território mais de metade dos cerca de dez mil soldados norte-americanos hoje presentes.

Acresce que em 2017 os EUA já não estarão no país a coberto de nenhuma missão, facto que, no entanto, não parece ser um problema para que os seus «aliados-chave» continuem a apoiá-los. É o que se conclui da troca de declarações entre o secretário da Defesa de Washington, Ashton Carter, e o secretário-geral da NATO, Jens Stolenberg. O primeiro disse esperar «que o compromisso dos Estados Unidos suscite a participação de outros membros [da coligação da NATO]». O segundo qualificou a decisão como «importante» e afirmou que aquela «demonstra o contínuo compromisso dos aliados da NATO e dos nossos parceiros no Afeganistão».

A decisão de manter a ocupação norte-americana do Afeganistão foi conhecida depois de um bombardeamento dos EUA sobre um hospital civil em Kunduz, a 3 de Outubro, ter morto 30 pessoas, entre as quais doentes e vários voluntários da Médicos Sem Fronteiras. A organização garantiu que o Pentágono sabia a localização exacta da unidade de saúde, apelidou o ataque de crime e atribuiu-o a uma vingança pela tomada da estratégica cidade pelos taliban.

O assalto bem sucedido sobre Kunduz foi a maior derrota militar dos EUA no território desde a sua invasão, em 2001.

A raiz da revolta

Entretanto, o portal The Intercept publicou um dossier denominado «A máquina de matar» no qual acusa a administração norte-americana de subestimar o total de vítimas civis dos raides aéreos com aviões não-tripulados.

Na compilação elaborada com base num acervo documental fornecido por um agente dos serviços secretos norte-americanos e divulgada no dia em que Barack Obama anunciou o prolongamento da «missão» no Afeganistão, o The Intercept revela que todos os homens mortos pelos ataques com «drones» em vários «teatros de guerra» são contabilizados como «inimigos mortos em combate», o que, assegura, é «uma insanidade».

O The Intercept dá justamente como exemplo uma operação ocorrida no Nordeste do Afeganistão, durante a qual 90 por cento dos mortos não correspondiam aos que haviam sido definidos como alvos.

A serem rigorosos, os dados ajudam a perceber a raiz da revolta perene contra os norte-americanos no Afeganistão, bem como o recrudescimento do combate à sua presença e o descrédito e desconfiança face às autoridades de Cabul, de que resultam a fragilidade das forças de segurança locais que os EUA invocam como justificação para manterem militares no território.

 



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