AKP responsabilizado
O governo e o Presidente da Turquia estão a ser responsabilizados pelo duplo atentado que sábado, 10, matou mais de uma centena de pessoas frente à estação central de caminhos-de-ferro na capital do país, Ancara.
O Partido dos Trabalhadores do Curdistão acusa o executivo de ser co-responsável
O ataque, considerado o pior da história da Turquia, ocorreu quando milhares de pessoas se preparavam para desfilar em defesa da paz, do trabalho e da democracia numa manifestação convocada por organizações sindicais e sociais. As explosões terão vitimado de imediato quase uma centena de militantes e provocado centenas de feridos, muitos em estado grave e muito grave, pelo que o total de mortos pode, nos próximos dias, vir a superar os 130 entretanto confirmados.
Na segunda-feira, 12, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, contra o qual o governo turco mantém uma brutal ofensiva militar apesar da trégua decretada na sequência da tragédia, acusou o executivo do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) de ser co-responsável pelo sucedido, nomeadamente atendendo aos vínculos estreitos que tem com grupos extremistas islâmicos e em particular com o Estado Islâmico, indicado pelas autoridades como autor do atentado.
A acusação prolifera entre os milhares de pessoas que protestam contra o sucedido, inclusivamente nos funerais das vítimas, transformados em actos de repúdio ao primeiro-ministro Ahmet Davutoglu e ao presidente Recep Erdogan, ambos do AKP.
Testemunhos dos acontecimentos relataram, para mais, que nas proximidades da iniciativa alvo de ataque não se encontrava qualquer dispositivo policial, algo inédito no país e em particular durante os últimos anos. No domingo, 11, porém, uma concentração de pesar em Ancara foi dispersa à bastonada pela polícia.
O atentado aconteceu a 20 dias das eleições legislativas, antecipadas para 1 de Novembro porque em Junho último o AKP não garantiu maioria absoluta no parlamento, muito por força da votação obtida pelo Partido Democrático dos Povo.
A vingança contra a formação pró-curda e o movimento pelos direitos do povo curdo, e a transigência do governo e presidente turcos para com o Estado Islâmico foram, aliás, referidas pelo Nobel da Literatura de 2006, o turco Orhan Pamuk, que em entrevista ao La Reppublica sintetizou que Recep Erdogan, «furioso» por não ter maioria para concretizar «o seu projecto de República presidencial», «primeiro, não quis integrar a coligação que combate o califado islâmico. Depois, aceitou fazer o que lhe pediram os americanos, mas ao mesmo tempo começou a bombardear os curdos» para colher votos entre os nacionalistas.