Sim, há bichas...

Pedro Campos

Muito se fala nos media dominantes sobre a falta de abastecimento que afecta a população venezuelana. Do que esses meios da comunicação social não querem falar é da outra face da moeda. Por que é que existe esse problema? Quem é que o provoca? A quem beneficia? O que é que faz a revolução bolivariana para combater essa guerra económica? É sobre esses temas que nos vamos debruçar, resumidamente.

Este ano, a Venezuela tem eleições legislativas e a oligarquia está mais assanhada do que nunca. Joga no campo da legalidade democrática, mas como aí já leva 18 derrotas em 19 «jogos» não tem grandes esperanças na vitória e coloca mais jogadores e mais agressivos no campo da conspiração.

Açambarcamento, contrabando e especulação são as armas nas quais confia para regressar ao poder. Desapareçam os produtos. Suba-se os preços grosseiramente. Ganhe-se sim mil por cento. Que as pessoas façam bicha... mesmo sem saber o que é que está à venda. E se se engalfinharem em batalhas campais por uma perna de frango muito melhor. Este último é o sonho mais acariciado pela reacção: ver povo contra povo, mas tal ainda não conseguiu... para grande desgosto dos media que conspiram sem pausa contra o processo bolivariano.

Os media espanhóis merecem destaque especial nesta guerra psicológica. Esganiçam-se com as bichas venezuelanas para comprar – repetimos, comprar – mas não falam nas que se formam nas cidades espanholas para comer uma sopa grátis ou para conseguir um trabalho miseravelmente remunerado. Isto sem mencionar quando um pai ou uma mãe desesperados optam pelo suicídio quando a polícia lhes entra pela casa para os pôr no olho da rua porque devem a casa ao banco. E ninguém fala dos filhos que ficam sem casa... mas continuam com a dívida, que os bancos não estão para perder dinheiro, a menos que seja nas contas dos banqueiros atempadamente abertas em paraísos fiscais.

Recentemente, a FAO reconheceu o papel da Venezuela na luta contra a pobreza extrema. Se alguém se pergunta para onde é que vai o que a Venezuela recebe pela venda do seu petróleo – hoje, sim, venezuelano – saiba que nos últimos anos 62 por cento do PIB foi dirigido para o investimento social. Deixando a percentagens e falando em números absolutos, destaque-se que, nos últimos dez anos, 142 mil milhões de dólares foram investidos na Missão Alimentação. Mais detalhes? Desde 2003, pouco depois do golpe de Estado e da paralisação da indústria petrolífera, foram distribuídas, através de mais de 22 mil estabelecimentos, mais de 25 milhões de toneladas de alimentos da cesta básica, que beneficiaram mais de 22 milhões de habitantes. Em 2004 foi iniciado o programa social gratuito Casa de Alimentação. Começou por atender perto de um milhão de venezuelanos, número que vinha em boa parte da década anterior e que cresceu com a guerra económica e a sabotagem petrolífera dos anos 2002 e 2003. Essas Casas de Alimentação hoje só cobrem as necessidades de 435 mil cidadãos porque a pobreza extrema que era de 12,2 por cento (2004) desceu actualmente para 5,4 por cento.

Outro antes e outro agora. No período final do neoliberalismo, o governo oferecia um copo de leite a 730 mil crianças em todo o país. Era o Programa do Copo de Leite Escolar. Uma «amabilidade» neoliberal. Hoje, no sistema de colégios bolivarianos, não há copo de leite. Nos mais de 22 mil centros de educação, mais de quatro milhões de crianças têm pequeno-almoço, almoço e lanche grátis!

Em 1998 a prevalência da subalimentação atingiu o seu ponto mais elevado: 21 por cento. Graças a programas como Missão Alimentação e outras medidas na mesma área, a Venezuela antes de 2010 já tinha cumprido a Meta do Milénio fazendo descer esse índice a 3,83 por cento, colocando-se no ranking de segurança alimentar segundo os parâmetros da FAO. É por estas e outras razões que a desnutrição não é desde há vários anos um problema de saúde pública na Venezuela. Quem o afirma é a Organização Mundial da Saúde. Hoje 95,4 por cento dos venezuelanos comem três vezes por dia ou mais.

E as bichas? Sim, há bichas. Entre outras razões porque um terço do que se produz na Venezuela sai de contrabando para a Colômbia para benefício de mais de 10 milhões de colombianos. Quem visitar a cidade fronteiriça de Cúcuta pode confirmar isto em dois minutos de passeio. E se der um salto até às ilhas vizinhas de Curaçao e Aruba encontrará ali – a preços muito mais elevados, claro está – o que é difícil adquirir na Venezuela. Tem de haver bicha! É vilanagem! É sabotagem!

 



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