A toda a brida

Henrique Custódio

Enquanto se desenrola a tragédia grega que os Sófocles do capital vão ditando de Wasinghton, Bruxelas, Berlim ou Paris, a caravana da coligação governamental portuguesa prossegue as suas arengas ao sol, quais beduínos de hidrófila espontaneidade: atira-se-lhes uns púcaros de água e temo-los tesos e barulhentos, nas suas cáfilas eleitorais que se bamboleiam por montes e vales.

E vão joeirando discursos sobre a cabeça das pessoas, derramando-lhes frases que desejam transformar em «factos» com o método de Goebbels: uma mentira repetida mil vezes transforma-se em verdade.

Uma dessas pérolas consiste na afirmação «agora, que a retoma avança e o desemprego recua».

Dizem-no a torto e a direito, enfadonhamente em todo o lado que se lhes ajeite, ora Passos e Portas, ora ministros mais secretários de Estado e desembocando em jornais, revistas, rádios, televisões e, sobretudo, directores, subdirectores e outros opinadores que, como o fez Paulo Baldaia (TSF) num programa de televisão onde perorava sobre a Grécia (é só um exemplo), não se envergonham de repetir, com displicência, que a economia portuguesa «agora, que entrou na retoma» e o desemprego que «vai baixando consistentemente».

São duas escandalosas mentiras, que os factos e até os dados oficiais confirmam.

O desemprego estrutural (o que atinge trabalhadores sem hipótese de arranjarem nova actividade) é semelhante a todo o desemprego que se registava em Portugal no início desta legislatura, enquanto a emigração forçada no decurso destes quatro anos caminha para o meio milhão de pessoas (maioritariamente jovens e qualificados).

Adicione-se-lhe os números oficiais do desemprego (788 100 – dados do INE) e um indeterminado conjunto de centenas de milhares de pessoas consideradas «empregadas» por «trabalharem» em «cursos» de semanas ou meses ou dias, horas, e até num único biscate, e teremos uma ideia aproximada do desemprego em Portugal, cujo número exacto é impossível de determinar, mas cuja gigantesca dimensão não se pode esconder por trás de umas décimas a subir ou a descer, conforme as conveniências e a imbecilidade desta manada de cortesãos.

Aliás, não há um único português que não esteja rodeado de desempregados, e esse é um facto que nenhuma sondagem poderá esconder, mascarar ou diluir numas décimas...

Quanto à «retoma», por muito que o epifânico Portas ou o extasiado Pires de Lima passeiem imenso a «promover Portugal», não passa – como nunca passou, nesta miséria «da maioria» – de pó que o vento borboleteia e que pouco significa na economia nacional, por muito que o penduricalhem na tal balança das décimas.

O estilo eleitoral do PSD/CDS está definido: mentir a toda a brida sobre o passado, para fingirem que têm politicamente futuro.




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