Os exames

Margarida Botelho

«Exames não estão a gerar a melhoria das aprendizagens», titulava a primeira página do Público de domingo, a propósito do início da época de exames do Ensino Secundário esta semana.

A afirmação era retirada da entrevista ao presidente do Instituto de Avaliação Educativa, o organismo que elabora os exames nacionais e os respectivos critérios de classificação. Lendo a entrevista, conclui-se que o senhor culpa os professores e as escolas por «treinarem» os estudantes para fazer exames em vez de lhes solidificar as aprendizagens e as matérias, o que não deixa de ser curioso para quem nunca questiona a existência de exames.

Mas a mesma edição do Público incluía num cantinho discreto a ferida onde o dedo deve ser colocado: entre 2009 e 2013, a percentagem de estudantes que não conseguiu concluir o Ensino Secundário oscilou entre os 30 e os 35 por cento.

É esse o principal libelo acusatório contra esta política educativa de direita, baseada em exames nacionais, os tais que «não estão a gerar a melhoria das aprendizagens»: o abandono escolar e a falta de qualificações dos jovens portugueses.

Os exames, que agora começam no 4.º ano de escolaridade, impostos a crianças de 9 anos, são apresentados como momentos de «rigor», de «exigência», de homogeneização das aprendizagens em todo o território nacional.

Na realidade, os exames aprofundam as desigualdades que grassam nas escolas e na sociedade. Desigualdades entre escolas públicas e colégios privados, entre regiões do País, escolas com ou sem condições, jovens de origens sociais diversas.

A política de direita dos sucessivos governos tem atacado a escola pública e empurrado muitos estudantes para a frequência de escolas degradadas, com falta de materiais, professores e funcionários, em turmas sobrelotadas. Fruto da situação social, muitos estudantes não têm condições sequer para comprar manuais, quanto mais para explicações.

Avaliar em duas horas a matéria dada em três anos, como refere o documento que a JCP está a distribuir nas escolas, agrava todas as desigualdades e não contribui para a aprendizagem.

Lutar por uma avaliação contínua e integrada é uma luta justa e necessária.

 



Mais artigos de: Opinião

Álvaro Cunhal: pensamento<br>e luta actuais

Decorreram 10 anos sobre o falecimento do camarada Álvaro Cunhal, que, como homem, comunista, intelectual e artista foi objecto de uma grande homenagem nas comemorações do 100.º aniversário do seu nascimento. Preferindo evocar o seu exemplo celebrando a data do seu nascimento, importa, no entanto, também neste momento, sublinhar aspectos marcantes do seu pensamento e luta com particular actualidade.

A feira, e tal...

A moscambilha eleitoral já navega ao largo, vela impante e mar aberto. A última aportagem foi na Feira Nacional de Agricultura, em Santarém, onde jubilosamente se deslocaram o PS e o PAF (não o da conhecida onomatopeia do estalo, mas o «estalo» da coligação PSD/CDS),...

Dribles e outras dissimulações

Entre os muitos ângulos de observação que se poderiam exercitar para ler o que a convenção do PS representou – seja pelos lado dos conteúdos programáticos ali enunciados na sua quarta versão, seja pelo desfile de afirmações a que o PS nos...

A Senhora do Alívio

Vai-se de Braga a Vila Verde e, em Soutelo, aparece-nos o Santuário da Senhora do Alívio, de fortes tradições na região minhota. Cantada popularmente, dela se dizia que dava, a quem a ia ver, «Bom terreiro pra dançar/Água fresca pra beber». Veio-me logo...

<i>Conspirações</i>

Não se trata de 'teoria da conspiração', mas de conspiração confirmada e documentada. O grupo norte-americano Judicial Watch publicou em Maio documentos oficiais dos ministérios dos Estrangeiros e Defesa dos EUA, obtidos após processo judicial. O jornalista Seumas Milne...