Um retrocesso de décadas
O PCP contesta a revogação do Programa de Matemática, argumentando que esta é uma «profunda alteração do ensino da Matemática» que se traduz «num retrocesso de décadas».
A sua substituição por um novo que privilegia a «mecanização de procedimentos e rotinas» contraria o «princípio da formação da cultura integral do indivíduo», sustentou a deputada comunista Diana Ferreira, que compartilhou as preocupações que sobre esta matéria têm vindo a ser expressas pela Associação de Professores de Matemática.
Razões que de resto estiveram na base do projecto de resolução que o PCP submeteu recentemente a debate com vista à reintrodução do anterior Programa de Matemática do Ensino Básico e à publicitação dos respectivos resultados de avaliação, diploma que a maioria PSD/CDS-PP viria a chumbar em votação no dia seguinte.
Alvo de crítica no novo programa é desde logo a própria «perspectiva pedagógica-didáctica» que o perpassa, com a imposição, segundo Diana Ferreira, além da referida mecanização de procedimentos, de «"aspectos mais formais da Matemática", em detrimento das "aprendizagens de maior exigência cognitiva"». Isto num programa que é também ele «mais extenso» e que «opta pela atomização e compartimentação das aprendizagens, "dificultando uma aprendizagem matemática articulada e integrada"».
Elevados custos
A aplicação deste novo programa «corporiza a visão do Governo em matérias curriculares», considerou a deputada do PCP, convicta de que o objectivo subjacente é «maquinizar os alunos, orientando-os para o fim único da avaliação externa, desvalorizando o processo de ensino-aprendizagem e o desenvolvimento do conhecimento dos jovens».
A testemunhar essa visão «retrógrada», exemplificou, está a realização recente dos exames nacionais, com as escolas a verem-se obrigadas a preparar os alunos «como se fossem cavalos de corrida, atendendo apenas ao resultado e não ao percurso escolar», em vez de lhes ser dada a possibilidade de se «concentrarem nas necessidades concretas dos alunos».
A reacção negativa à decisão do Governo de revogar o Programa de Matemática homologado em 2007 prende-se, por outro lado, com a circunstância de a mesma ocorrer sem que aquele tenha sido complemente incrementado, o que veio criar uma «situação de incompatibilidade efectiva, em matérias significativas, entre aquele programa e as metas curriculares», além de desrespeitar prazos de vigência e de elaboração dos manuais escolares, sem falar no custo financeiro que representa para estudantes e famílias, que terão de os «substituir por outros ainda desconhecidos e, provavelmente, mais caros».