Mentira! E ao quadrado!
Ainda se recordam de que o processo de privatização do Metro e da Carris começou com o Governo a jurar a pés juntos que o Estado ia deixar de pagar para os transportes públicos? Que iam acabar as indemnizações compensatórias e a exploração passaria a estar equilibrada, e pátáti e pátátá?
Logo na altura alertámos para a escandalosa mentira. Mas como sempre, as suas mentiras eram difundidas por todo o lado pelos domesticados meios de comunicação social. Foram precisos meses de luta da vasta coligação que se opõe (*) ao processo de privatização para que uma parte da verdade começasse a ser reconhecida.
O presidente do Metro e da Carris lá acabou por reconhecer a mentira, mas fê-lo mentindo novamente. Leiamos o que disse, sabendo que o que disse foi amplamente divulgado: «Nós escolheremos aquele [candidato] que aceite maior risco e que nos custe menos. Existe um limite máximo de cerca de 80 milhões para a Carris e de cerca de 53 milhões para o Metro. Mais do que isto não pagamos.».
Comecemos por registar a primeira parte: afinal o Estado vai pagar ao privado e vai pagar bem. Em vez de zero vão ser 133 milhões de euros. Por ano, acrescento eu, que ao engenheiro faltou o rigor. Mas estes números são uma mentira na medida em que omitem que além destes 133 milhões o Estado vai entregar ao privado até 50 por cento da receita tarifária, qualquer coisa como mais 85 milhões de euros por ano. E ainda transfere para o privado 12 milhões de receitas publicitárias. E ainda oferece a utilização gratuita dos comboios e autocarros, e da infra-estrutura. São pois 230 milhões por ano mais um conjunto de facilidades.
E digo mentira com todas as suas sete letras. E é para poderem assim mentir que escondem do povo (e até da Assembleia da República) os contratos que andam a negociar, e enterram as suas negociatas em 19 900 páginas de rebuscadas fórmulas jurídicas e matemáticas.
«Maior risco?» Se o único risco que estes parceiros público-privados correm é que o povo acorde ...
(*) Sublinhe-se o «opõe-se», por contraste com o «pede a suspensão», «combate esta» e quejandos daqueles que desejam suceder ao PSD/CDS na execução da política de direita.