O apelo ao grunho

Manuel Gouveia

No dia em que os trabalhadores do Metro realizavam mais uma grande jornada de luta, o administrador encarregado pelo Governo de destruir o Metro e a Carris garantia que a subconcessão iria acabar com as greves.

Estamos perante o mesmo administrador que recentemente declarou que só há greves no Metro porque estamos à beira de eleições, numa daquelas mentiras que tropeça em si própria. E que, já a pensar em acabar com «as greves», mandou colocar nos cadernos de encargos da subconcessão um artigo que equipara a greve a «actos de terrorismo» e a «cataclismos naturais», e assegura ao privado que o Estado lhe pagará o serviço que não realizar devido a greves. O mesmo administrador que se recusa a reunir com os sindicatos desde que tomou posse e discrimina os trabalhadores pertencentes à estrutura sindical.

Na mesma entrevista, questionado sobre as consequências da privatização, afirmou «não conhecer os números». Mas conhece! Já não é sequer capaz de os defender, depois de os trabalhadores terem cabalmente demonstrado a falsidade de toda a propaganda do Governo, e terem provado que o processo de privatizações em curso tornaria os transportes públicos mais caros para o Estado, com pior qualidade e mais caros para os utentes e para as populações. E quando não há factos, inventa-se argumentos, se tal coisa se pode chamar a este apelo ao grunho: as privatizações servem para acabar com as greves.

Mas este apelo ao grunho também se insere numa ofensiva mais vasta. Assente o domínio ideológico do grande capital, a ele lhe caberiam todos os direitos. Mascarando os seus interesses de classe como necessidades objectivas e colectivas, eles procuram intensificar a luta de classes e a exploração, e travar essa luta num quadro em que o capital tem o dever de atacar e os trabalhadores nem têm o direito de se defender. E tentam ostracizar e isolar quem ousa resistir.

Que os trabalhadores não se deixem intimidar, nem desorganizar, nem desarmar. Da luta de classes não há como escapar: a opção é entre ser vítima ou combatente! E a greve é uma arma dos trabalhadores! De todos os trabalhadores!




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