Notas sobre o «império»
As contradições do processo de integração capitalista na Europa não cessam de se aprofundar, só a propaganda «sistémica» consegue dizer o contrário. E à medida que as contradições «aquecem» mais o «império» se auto desmascara. Na frente «internacional» a União Europeia acaba de dar uma demonstração cabal da sua natureza imperialista e xenófoba. O efeito «boomerang» das políticas ditas «externas» da UE para África e Médio Oriente está à vista: um mar de cadáveres de seres humanos que fogem da fome, da pobreza e das guerras provocadas pela NATO e pela UE. Resposta? Instituir sistemas de quotas para migrantes, triplicar o financiamento à resposta de força e intervir militarmente em países como a Líbia. Ou seja, deitar gasolina para o fogo. O embaixador Líbio na ONU lá foi dizendo que o seu «governo não foi consultado» e que não está a ver como se vão distinguir barcos de pesca de barcos de traficantes, mas isso parece não fazer grande mossa na decisão da «Europa fortaleza»
No plano «interno» o caso grego continua a fazer manchetes. «Desilusão»... os gregos ainda não cederam por completo, 18 de Junho há mais. Faltam as privatizações, o mercado laboral e a segurança social. O Eurogrupo – o «conselho de administração» da Zona Euro – vai fazendo o seu papel. Por um lado estrangula financeiramente a Grécia, por outro avança na ingerência política directa. Desde considerações sobre a organização interna do governo grego (Maria L. Albuquerque) até pérolas de colonianismo moderno como «talvez seja a opção mais acertada: deixar o povo grego decidir, já que o governo não está pronto para tomar decisões» (Schauble) ou «não há preocupações quanto a um referendo desde que ajude...» (Dijsselbloem), tudo serve para pôr a Grécia na linha e esmagar a vontade daquele povo. A ironia, o cinismo e o atrevimento de um grupo de tecnocratas ao serviço do grande capital aparenta força, mas é só aparentemente... É que essa arrogância e desfaçatez é apenas a expressão de quem se sente cada vez mais acossado pelo facto de o seu «império» ser cada vez mais contestado pela realidade e... pelos povos.