Jogos de guerra
A par da crescente repressão e perseguição interna a comunistas e outros democratas, Kiev parece estar a aproveitar o cessar-fogo – que está a ser cumprido – para reforçar as suas tropas com o apoio dos EUA.
EUA querem oficializar fornecimento de armas à Ucrânia
Alexander Kononovych, dirigente regional de Volyn do Partido Comunista da Ucrânia (PCU), foi raptado na quinta-feira, 12, por militantes pro-fascistas, com o conhecimento dos serviços secretos ucranianos.
Segundo uma nota divulgada pelo gabinete de imprensa do PCU, o rapto ocorreu ao início da tarde no centro da cidade de Lutsk, perto do cinema Promin, e foi testemunhado pela mulher de Kononovych, que o viu ser agredido e empurrado à força para dentro de um carro que o levou para paradeiro desconhecido.
O PCU informa ainda que os serviços secretos ucranianos (SBU) haviam acusado Alexander Kononovich e o seu irmão Michael, a 27 de Fevereiro, de separatismo, por terem organizado a recolha e entrega de ajuda humanitária às crianças de Donbass afectadas pelos bombardeamentos do exército ucraniano a zonas residenciais.
Para o PCU, o rapto e a acusação de separatismo são (mais) uma «tentativa de intimidação dos comunistas que assumidamente condenam a guerra e exigem a paz».
Entretanto, os EUA decidiram enviar pelo menos 300 militares para a Ucrânia, entre 5 Março e 31 Outubro, no âmbito do seu programa de ajuda ao Exército ucraniano. A informação foi divulgada recentemente pela agência RIA Novosti, citando um documento publicado no sítio norte-americano de contratação pública Federal Business Opportunities. O anúncio visava contratar os serviços para o transporte dos militares entre o aeroporto internacional de Lvov e o campo de treino do International Peacekeeping and Security Center onde decorrerá a missão de oito meses.
Enquanto isso, dois membros da Câmara dos Representantes dos EUA – o republicano Mac Thornberry e o democrata Adam Smith – apresentaram um projecto de lei, subscrito por 28 outros deputados, para prestar uma ajuda militar à Ucrânia no valor de mil milhões de dólares. Os autores do projecto alegam que Kiev precisa deste apoio para «proteger o seu território soberano contra a agressão estrangeira» e para «garantir as condições para uma solução pacífica que ponha fim ao conflito».
A entrega de armamento à junta fascista no poder tem cada vez mais adeptos entre republicanos e democratas, informa por seu lado o jornal The New York Times, acrescentando que também vários representantes da administração Obama apoiam a ideia.
Por seu lado, o presidente ucraniano Petro Poroshenk apresentou ao parlamento, a 2 de Março, um projecto de lei para aumentar as forças armadas do país em um terço, para 250 mil soldados, que recolheu o apoio de 270 dos 423 deputados. Segundo o sítio da Radio Free Europe/Radio Liberty, o líder do Partido Radical Oleh Lyashko, ao intervir antes da votação da lei, afirmou que «quem votar contra ou não a apoiar está ao serviço de Putin [o presidente russo], a favor da agressão russa, a favor dos ocupantes russos que pisam a nossa terra no Donbas e o nosso solo na Crimeia».
As novas tropas, diz-se no documento, «vão formar dois centros de operações de comando, 11 brigadas, quatro regimentos, 18 batalhões, 16 esquadrões, e 13 pelotões encarregados cada um de diferentes tarefas».
Mal-estar em Berlim
O presidente da Ucrânia, Piotr Poroshenko, apresentou esta segunda-feira, 16, à Rada Suprema [o parlamento do país] um projecto de pedido ao Conselho de Segurança da ONU e ao Conselho Europeu para o envio de uma «força internacional de manutenção de paz» para o Leste do país.
O documento, publicado na página oficial da Rada na Internet, justifica o pedido com a existência de «grupos terroristas» que «actuam sob a direcção de e financiados pela Federação Russa», cometendo «actos de terrorismo, crimes de guerra e outros delitos», e a necessidade de «criar condições para a rápida normalização da situação» e o «restabelecimento do Estado de direito».
A iniciativa, que segundo Moscovo não respeita os acordos de Minks, surge numa altura em que se acentua o mal-estar de Berlim face às «falsas e exageradas» declarações agressivas que o comandante das forças da Nato na Europa, Philip Breedlove, vem fazendo sobre a alegada «ameaça russa» na Ucrânia. Segundo relatava a revista alemã Der Spiegel na sua edição de 6 de Março, as autoridades alemãs estão atónitas com as declarações de Breedlove, que vão ao encontro dos que exigem que os EUA forneçam armamento a Kiev. As autoridades estão alarmadas, refere o semanário, porque os norte-americanos estão a frustrar os esforços europeus de uma mediação pacífica da crise ucraniana, e qualificam os comentários de Breedlove como uma «perigosa propaganda», sem correspondência com as informações de que dispõem os serviços secretos alemães.