EUA intensificam campanha contra a Venezuela

Bolivarianos resistem

A Unasul vai tentar mediar o conflito promovido pelos EUA contra a Venezuela, que acusa o governo norte-americano de ingerência e de patrocinar o derrube do executivo liderado por Nicolás Maduro.

Parte da ofensiva passa pela guerra económica

LUSA

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O ministro dos Negócios Estrangeiros do Equador revelou que, conjuntamente com os seus homólogos da Venezuela, Delcy Rodríguez, do Brasil, Mauro Vieira, e com o secretário-geral da União de Nações da América do Sul (Unasul), Ernesto Samper, vai «procurar canais de comunicação com o governo norte-americano que favoreçam o diálogo entre os dois países, no quadro do respeito pela soberania dos estados e pelo princípio da não ingerência».

Ricardo Patiño falava no final de uma reunião efectuada anteontem, em Montevideu, capital do Uruguai, a pedido de Caracas, depois de os EUA terem imposto novas sanções contra altos responsáveis políticos venezuelanos, e de o director da Agência de Inteligência do Departamento de Estado dos EUA, general Vincent Stewart, ter afirmado, na Comissão de Assuntos Militares da Câmara dos Representantes, que em 2015 «antecipamos que as organizações estudantis e a oposição política organizem protestos nos meses anteriores às eleições legislativas».

Washington acusa os dirigentes bolivarianos de sufocarem a dissidência e reprimirem a contestação à degradação económica e social do país, mas as autoridades bolivarianas negam e consideram que esse é um falso argumento para dar cobertura à promoção de um golpe de Estado, como as palavras de Vincent Stewart indiciam.

Opinião semelhante tem, aliás, o responsável das relações externas do Equador, que na quinta-feira, 5, advertia para o apoio dos «poderes de facto» que nos EUA pretendem voltar a tomar posse dos recursos naturais da Venezuela, bem como para o perigo de desestabilização de toda a região caso o governo de Caracas fosse derrubado por uma intentona.

Guerra económica

Parte da ofensiva passa pela guerra económica contra o país, em resposta à qual o governo bolivariano tem implementado medidas urgentes. Para que o tipo de campanha montada contra o governo de Salvador Allende, no Chile, não se repita agora na Venezuela, a palavra de ordem é combater o açambarcamento de produtos e o seu tráfico quer no mercado paralelo interno, quer para o estrangeiro. Nesse sentido, no sábado, 7, iniciou funções o Comando Popular Militar contra a Guerra Económica, cuja missão é assegurar o funcionamento regular da grande distribuição.

Paralelamente, o executivo de Caracas assumiu, sexta-feira, 6, o controlo de uma cadeia de supermercados privada cujos responsáveis foram entretanto acusados de boicotar o acesso da população a bens essenciais, agravando a sensação de escassez generalizada. Perante a Justiça foram também obrigados a comparecer os directores de uma rede de farmácias, igualmente acusados de especulação e sabotagem, nomeadamente mantendo a maioria das caixas registadoras encerradas com o objectivo de provocar longas filas de clientes, prática que os bolivarianos dizem estar a ser repetida com o intuito de criar agitação social e contestação

Antes, o governo liderado por Nicolas Maduro já havia implementado um plano que dá prioridade ao abastecimento das redes públicas de distribuição de géneros. Maduro tem apelado aos venezuelanos para que apoiem o combate à guerra económica, e mais recentemente cumpriu a promessa de aumento do salários mínimo em 15 por cento. Avançou, ainda, no programa de construção de cerca de 400 mil habitações sociais até finais de 2015. Estas medidas destinam-se a forçar a dinamização da economia através «do investimento social, em infra-estruturas e na economia produtiva», como realçou o chefe de Estado, dia 22 de Janeiro, durante a apresentação do relatório «memórias e contas» no parlamento.

 

Campanha multifacetada

A desestabilização da Venezuela também se faz através de uma campanha mediática com expressão internacional, diz a ONG Jornalistas pela Verdade, que acusa os EUA de orquestrarem a ofensiva. A ONG pronunciou-se antes do atentado realizado domingo, 9, contra uma das sedes do canal estatal de televisão Vive, na cidade de Maracaibo, no Estado de Zúlia. As mesmas instalações já haviam sido visadas por engenhos explosivos em 2013, justamente no contexto do recrudescimento de uma tentativa de derrube do governo bolivariano.

Na actual campanha, destacam-se agentes externos e internos. Por estes dias, entre os primeiros emergiram os ex-presidentes da Colômbia e do Chile, Andrés Pastrana e Sebastián Piñera, respectivamente, que para além de tentarem visitar o líder do partido de extrema-direita Leopoldo López, preso desde 2014, participaram, em Caracas, num fórum da oposição com o sugestivo nome de «O poder cidadão e a democracia de hoje».

Já entre os agentes internos, ganham relevo o Observatório Venezuelano de Conflitualidade Social, que a propósito da apresentação do relatório «Conflitualidade social na Venezuela em 2014», reiterou as acusações de que o governo de Nicolás Maduro reprime a população e viola os direitos humanos, e antecipou o agravamento da conflitualidade social para este ano. Repetindo, quase ipsis verbis, as já citadas palavras do responsável dos serviços secretos norte-americano, Vincent Stewart.

 



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