Despedimentos nos EUA
A queda do preço do petróleo ameaça provocar uma vaga de despedimentos nos Estados Unidos. As principais companhias anunciam cortes e congelam salários para reduzir perdas.
O crude transformou-se em mais um activo financeiro
LUSA
Segundo um estudo realizado pelo banco Federal Reserve de Dallas, citado na edição de domingo, 8, do El País, em meados de 2015 o Texas – que lidera a produção de petróleo nos EUA, com 2,531 milhões de barris por dia – terá perdido 128 000 empregos relacionados com o sector. A situação é idêntica noutros estados produtores, como o Dakota do Norte, Alaska, Oklahoma e Califórnia.
Na semana passada, a gigante petrolífera BP anunciou o congelamento de salários de 80 000 trabalhadores, enquanto a Baker Hughes avisava que vai dispensar 7000 empregados no primeiro trimestre deste ano. Embora sem especificar o número de despedimentos, também a Halliburton se prepara para seguir o mesmo caminho.
«Se os preços se mantiverem na faixa de 40 a 50 dólares por barril veremos uma contracção do sector energético no Texas e nos Estados Unidos», diz Bernard Weinstein, economista e director associado do Instituto de Energia Maguire, da Universidade Metodista do Sudeste (SMU), em declarações ao jornal.
«Os mais afectados são os trabalhadores nos campos, mas essa é só a ponta do iceberg. Há a manufactura relacionada com a indústria do petróleo, e eles também serão afectados. Também o sector de transporte, entre outros. As zonas menores, dependentes da indústria petrolífera, serão sem dúvida as mais atingidas», afirma Weinstein.
O endividamento
Às diferentes explicações para a queda dos preços do petróleo, o Banco Internacional de Pagamentos (BIS) acrescenta mais uma: o forte endividamento das petrolíferas e o facto de o crude se ter transformado em mais um activo financeiro.
Num recente relatório, o BIS compara a actual situação com as turbulências registadas em 2008 (quando a queda do preço do crude se deveu a uma retracção na procura) e em 1996 (quando se registou um excesso de oferta), e conclui que a queda de preços que se vem registando desde meados do ano passado não tem a ver nem com a oferta nem com a procura, já que tais parâmetros se situaram dentro das previsões. «Como acontece com outros activos financeiros, o preço do crude é afectado pelas mudanças nas expectativas sobre as condições futuras do mercado. Assim, a decisão da OPEP de manter o nível da produção «foi a chave para a queda do preço».
Outro aspecto que para o BIS pode justificar a queda registada é o «aumento da dívida no sector petrolífero registada nos últimos anos». A maior disponibilidade dos investidores para financiar as companhias tendo como aval as reservas de crude e os seus crescentes lucros levou as petrolíferas a aumentar substancialmente a sua influência. Segundo o relatório, a «enorme carga de dívida no sector pode ter impacto nas recentes dinâmicas do mercado de crude ao expor as companhias a riscos de liquidez e solvência».