Pormaiores de classe
A entrevista à Visão do director-geral da Fladgate Partnership, a empresa que detém as reconhecidas marcas de Vinho do Porto, Taylors, Fonseca, Croft e Krohn, é bastante reveladora do pensamento e da estratégia das casas exportadoras para aquela região.
Questionado sobre as grandes mudanças no Douro, o empresário refere, em primeiro lugar, «as redes rodoviárias». Porque «pode-se viver no Porto e ter um projecto lá» (no Douro).
Para ele, os que lá moram, que fazem o Douro e os seus socalcos, que constroem e reconstroem os muros que os seguram, que trouxeram aquele vale a Património da Humanidade, os que amanham a vinha e do xisto fazem brotar o melhor vinho do mundo, serão dispensáveis, assim esteja garantida a comodidade dos que podem comandar os investimentos das varandas de Gaia ou do Porto, podendo ir, amiúde, ver as paisagens e crescer os rendimentos, sem sujar demasiado os sapatos.
Sobre a liberalização e o «fim do benefício» (sistema de regulação da produção de vinho do Porto), é peremptório. «O benefício não serve», acrescentando que «é artificial, distorce o mercado» (querem lá ver que há quem ainda não tenha entendido que o mercado é entidade santificada e portanto intocável?). Mas logo explica o ponto de vista de classe que todas estas questões contêm. É que, como ele reconhece, esta opinião é diferente «se falamos com pequenos lavradores, ou se com aqueles que estão vocacionados para produzir o melhor possível», leia-se as casas exportadoras e os grandes proprietários.
Ponto de vista de classe, que se manifesta, uma vez mais na apreciação sobre a Casa do Douro, que diz ele, «tem sido uma nuvem negra». Mas avisa, que «agora, há que ver quem vai representar os lavradores». Ou seja, é necessário garantir que a sua representação seja feita, não por eles próprios, como até aqui, no Conselho Regional da Casa do Douro, mas sim, pelos senhores que vivam no Porto, ou em Lisboa, ou em Londres, mas que estão à distância de uma autoestrada – paga – ou de um clique, na Internet, para assegurar a sua representação.
Até porque, como ele conclui, «estou mais preocupado em proteger as minhas (as dele, claro!) marcas, do que pôr lá a designação Vinho do Porto».
Assim se desfaz qualquer equívoco dos seus interesses. De classe!