Ponto alto da luta que não pára
A CGTP-IN considerou que o «dia nacional de indignação, acção e luta» foi «um momento alto da luta contra a exploração e o empobrecimento», valorizando resultados alcançados e destacando a importância da articulação das reivindicações concretas com a luta mais geral, pela demissão do Governo e alteração da política - como vai voltar a ser exigido nos próximos dias, nas iniciativas descentralizadas da «marcha nacional».
Exige-se uma política e um Governo que correspondam às aspirações dos trabalhadores e ao interesse nacional
A meio da tarde de 13 de Novembro, a CGTP-IN publicou uma saudação ao movimento sindical e a todos os trabalhadores que participaram nas acções realizadas por todo o País e fizeram desta jornada «um momento alto da contestação e rejeição da política de exploração e empobrecimento».
A central começou por observar que a intervenção dos trabalhadores na definição das reivindicações e nas decisões sobre as acções a desenvolver foi determinante para o impacto obtido: os significativos níveis de adesão às formas de luta e, com destaque, os resultados imediatos. Na saudação refere-se o aumento dos salários e a marcação de reuniões, nos próximos dias, com administrações de várias empresas.
Apesar de valorizar o resultado «globalmente positivo» de dia 13, a Intersindical alertou: «a manutenção dos problemas em várias empresas e a necessidade de resposta às reivindicações apresentadas exigem a continuação de uma forte intervenção sindical nos locais de trabalho». Nos próximos dias e semanas, «importa dar sequência à articulação das reivindicações concretas, definidas nas empresas e serviços, com a luta mais geral».
Ficou assumida como prioritária a mobilização dos trabalhadores e da população para a «marcha nacional», que arranca amanhã, em Braga e no Algarve, e prossegue até dia 25, quando terá lugar uma concentração frente à Assembleia da República, na altura em que os deputados vão realizar a votação final global da proposta de Orçamento do Estado para 2015.
Para a CGTP-IN, «prosseguir e intensificar a luta contra a política de direita, pela demissão do Governo PSD/CDS e pela marcação de eleições antecipadas, constitui não só um direito como um dever de todos quantos lutam pela afirmação dos valores e direitos de Abril e por uma política de esquerda e soberana».
No trabalho
e nas ruas
Com a saudação, a Inter divulgou um balanço das acções de luta efectuadas até às 13 horas, abarcando diversos distritos e sectores. Informações de sindicatos, uniões e federações, difundidas ao longo do dia, permitem traçar um quadro bastante completo da dimensão desta jornada nacional. Em muitas das iniciativas, os trabalhadores tiveram que enfrentar chuva e frio.
Teve adesão de cem por cento à greve na Cerdomus, em Aveiro, no final do primeiro turno e início do segundo, ficando a produção parada toda a noite, devido à greve das trabalhadoras escolhedoras. Forte adesão verificou-se na Saint-Gobain Sekurit, em Santa Iria de Azóia (Loures), o primeiro local onde estiveram, cerca das sete horas, o Secretário-geral, Arménio Carlos, e outros dirigentes da CGTP-IN. Ainda neste sector, destacou-se a elevada adesão às paralisações de duas horas na Rauschert e na Soplacas (ambas no concelho de Cascais), com pessoal reunido junto ao portão da primeira. Na Postejo, em Benavente, a greve de duas horas teve a adesão de 90 por cento do pessoal e foi seguida de uma acção de solidariedade, no centro da vila.
Em Sines, duas centenas de trabalhadores da Petrogal e da EFATM concentraram-se de manhã no portão da refinaria e foram, em protesto, ao edifício da direcção. Realizou-se igualmente uma concentração de trabalhadores da Petrogal e de empreiteiros na refinaria do Porto (Matosinhos).
Paralisações do trabalho e uma concentração de trabalhadores das empresas Bosch, Delphi e Fehst tiveram lugar no Complexo Grundig, em Braga. Foi quase total a paralisação na Groz Beckert, em Valadares (Vila Nova de Gaia). Tiveram elevada adesão as paralisações na Sakthi (Maia), na Inapal Metal (Trofa), na Kathrein Automotive (Vila Real, com paragem total da produção), na CAMO (Vila Nova de Gaia).
Nas informações do dia mereceu destaque a greve de 48 horas, iniciada com elevada adesão na Isporeco (parque industrial da Autoeuropa). De tarde, foi alcançado um acordo com a empresa, para aumentos que vão até 55 euros para os salários mais baixos, o que levou à suspensão da greve.
Trabalhadores da Multiauto (Setúbal, Beja e Évora) reuniram-se em plenário e decidiram realizar uma greve de 24 horas, ainda em Novembro.
No estaleiro da Mitrena, em Setúbal, trabalhadores da Lisnave e Lisnave Yard realizaram um plenário e desfilaram até ao edifício da administração, a exigir aumento dos salários.
Duramente atingidos pela «austeridade» desde 2010, os trabalhadores dos transportes juntaram-se aos protestos. Na CP Carga, a adesão à greve foi superior a 75 por cento e provocou a paragem dos comboios, restringindo-se a circulação aos serviços mínimos. Na EMEF, ocorreram paralisações nas oficinas; os trabalhadores em luta reuniram-se em plenários e deram expressão pública ao protesto, realizando cortes simbólicos da via, durante a tarde, nas estações de Santa Apolónia e Entroncamento, e um desfile no Porto. Na SPdH (handling do Aeroporto de Lisboa), com greve de cinco horas, realizou-se uma concentração e um protesto junto à associação que deu à empresa do Grupo Urbanos um prémio de boa gestão.
No Metropolitano de Lisboa, perante a obrigação de garantir, como serviços mínimos, 25 por cento da circulação normal (mas, claro, sem igual restrição do número de passageiros nas estações, o que criaria perigosas situações de sobrelotação de comboios e estações), a Fectrans e os sindicatos apelaram a que os trabalhadores em greve cumprissem o horário de trabalho e o apelo foi correspondido.
Representantes dos trabalhadores da Portugal Telecom deslocaram-se à sede da PT SGPS, para exigirem medidas que impeçam que a empresa fique entregue a interesses estrangeiros.
O MUSP emitiu, no dia 10, um comunicado de solidariedade e apoio dos utentes à luta dos trabalhadores dos transportes públicos, acentuando os motivos para contestar os processos de privatização e concessão de serviços a empresas privadas. Em Albarraque (Sintra), realizou-se no dia 13, de manhã, uma concentração para exigir melhores condições no Centro de Saúde. No troço do IC19 entre Cacém e Queluz, o movimento de utentes de serviços públicos fez um apelo, frequentemente correspondido, a que os automobilistas buzinassem contra o Orçamento do Estado para 2015.
No sector têxtil, foram assinaladas as greves de uma hora na Huber Tricot, em Santa Maria da Feira, com concentração junto ao portão principal e deslocação à administração, e na Trecar, em César (Oliveira de Azeméis), onde a adesão foi de 90 por cento e a fábrica esteve totalmente parada; os trabalhadores estiveram concentrados no principal acesso da fábrica e deslocaram-se depois à sede da administração, em São João da Madeira.
Em greve, contra o trabalho precário e os despedimentos, dezenas de trabalhadores da Unicer deslocaram-se a Lisboa e manifestaram-se no Camões, junto ao Ministério da Economia e do Emprego. Com eles esteve também Arménio Carlos.
No sector da alimentação colectiva, a greve de 24 horas teve forte adesão, sendo uma das maiores de sempre na região Centro, onde encerraram os refeitórios de mais de quatro dezenas de escolas, mas também a área de serviço do Fundão, na A23, registando-se fortes níveis de adesão noutras, como a do Pombal, na A1, e a de Montemor-o-Novo, na A6. Também parou por completo o refeitório da Autoeuropa.
Por aumentos salariais, emprego seguro e com direitos e negociação da revisão do acordo colectivo de trabalho, a greve teve efeitos um pouco por todo o País, e centenas de trabalhadores concentraram-se, ao fim da manhã, junto às sedes da Eurest, em Alfragide, e da Gertal e Itau, em Leça do Balio (Matosinhos).
Frente à sede do Pingo Doce, concentraram-se de manhã dirigentes e delegados sindicais de empresas da grande distribuição, em cuja associação patronal (APED) aquele grupo tem responsabilidades como dirigente. Uma acção semelhante realizou-se em Matosinhos, junto à sede da Sonae. Paralisaram também e saíram para o exterior dos armazéns os trabalhadores do Pólo Logístico Sul da Sonae, na Azambuja.
Na Misericórdia de Vila Nova de Gaia, a greve de 24 horas teve níveis de adesão acima de 90 por cento e afectou os quatro lares da cidade, realizando-se uma concentração junto à sede, a meio da manhã.
Milhares de trabalhadores da administração local fizeram greve e participaram em cinco dezenas de plenários, concentrações e desfiles, em vários concelhos. À vice-presidente da CM da Chamusca foi entregue um abaixo-assinado com 141 subscritores (num total de 167 trabalhadores do município), ficando assumido o compromisso de desbloquear a discussão da semana de 35 horas. Mais de 500 trabalhadores da CM de Braga concentraram-se frente aos Paços do Concelho. Igualmente em greve por duas horas, mais de 300 trabalhadores concentraram-se frente à CM de Gondomar.
Realizaram-se iniciativas de luta com impacto público em praticamente todos os concelhos do distrito de Setúbal. Em Almada, o desfile desde a Cova da Piedade até à Praça de São João Baptista contou com largas centenas de pessoas, destacando-se trabalhadores das autarquias locais e do Arsenal do Alfeite. Aqui estiveram também o Secretário-geral da CGTP-IN e o presidente da CM de Almada, Joaquim Judas.
Um dos eleitos da CDU na Assembleia Municipal de Mafra garantiu aos trabalhadores, reunidos frente à Câmara, que fará chegar ao órgão deliberativo os motivos do protesto e a exigência de negociação do acordo (ACEP) entregue no início do ano.
Em Lisboa, a adesão à greve de duas horas na empresa municipal EGEAC levou a que as bilheteiras e o portão do Castelo de São Jorge encerrassem às 16 horas. Foram realizados plenários, ao longo da manhã, em serviços de quatro instalações da Câmara.
Marchas
Sexta-feira, 21
Algarve: caravanas automóveis a partir de oito concelhos, concentração em Faro, às 17 horas, no Largo do Mercado
Braga: marchas a partir das 15 horas em Guimarães, partindo da central de camionagem, do Jardim do Carmo e do Bairro N. S. da Conceição
Sábado, 22
Porto: às 15 horas, marcha da Praça da Batalha para o Cais da Ribeira
Viana do Castelo: às 10 horas, da Praça da República à Ponte Eiffel
Castelo Branco: às 14h30, junto à Câmara Municipal. Fundão, às 15h45, junto à Câmara Municipal. Covilhã, às 16h30, do jardim público para o pelourinho.
Domingo, 23
Aveiro: às 10 horas, da Av. Dr. Lourenço Peixinho, junto à União de Sindicatos, para a Ponte-Praça
Beja: às 11 horas, em Aljustrel. Às 15 horas, em Serpa, junto ao Hospital.
Évora: às 10 horas, caminhada pelo centro histórico, do Rossio de São Brás à Praça do Giraldo
Segunda-feira, 24
Leiria: às 15h30, da Mapicentro (matadouro), para as Escolas Públicas (zona do Tribunal e da Segurança Social)
Madeira: às 15h30, tribuna sindical no Funchal, frente à Assembleia Legislativa Regional
Portalegre: às 10 horas, do Rossio pela Rua do Comércio
Coimbra: às 15h30, concentração no Largo da Portagem
Guarda: às 14h30, concentração frente ao Hotel Turismo
Santarém: às 17h30, junto à Segurança Social, saída de desfile em cordão humano
Setúbal: às 17 horas, em Grândola, concentração frente aos Correios
Terça-feira, 25
Setúbal: às 8h30, concentração em Cacilhas (Almada) e passagem de barco para o Cais do Sodré, daqui seguindo em manifestação para o Terreiro do Paço e, com o distrito de Lisboa, para a Assembleia da República
Lisboa: marcha com saída às 6h30, de Moscavide, passando por Cabo Ruivo, Poço do Bispo, Xabregas e Santa Apolónia; cerca das 9h30, no Terreiro do Paço, junta-se com o distrito de Setúbal, seguindo para a Assembleia da República