Irlandeses saem à rua contra a austeridade

A gota de água

Um protesto massivo contra a austeridade teve lugar, dia 11, em Dublin, capital da Irlanda. A polícia contou 30 mil manifestantes, os organizadores falam em cem mil.

Protesto massivo contra mais um assalto às famílias

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A causa próxima deste protesto, considerado como um dos maiores das últimas décadas, é a intenção do governo de direita de impor a taxação da água, com valores que podem atingir os 500 euros anuais para uma família de quatro pessoas.

Esta foi a gota que fez transbordar a revolta contra sete anos de políticas de austeridade que aumentaram impostos, reduziram salários e fizeram disparar o desemprego.

A Irlanda é um dos raros países em que o abastecimento doméstico de água não é cobrado directamente aos consumidores. Isso não significa que seja gratuito, pois a população já hoje paga pesados impostos de todo o tipo, incluindo aos municípios, que asseguram o serviço na maior parte do país. Assim, a introdução da taxa de água traduz-se num aumento de impostos incomportável para muitas famílias.

Um estudo da Associação Irlandesa de Instituições de Crédito, citado pela imprensa nacional, revelou que 1,8 milhões de pessoas, quase metade da população do país, depois de pagarem as contas mensais, ficam com menos de 100 euros.

Com uma margem de manobra tão reduzida, a nova taxa só poderia provocar a ira dos irlandeses.

Esse sinal já tinha sido dado durante as recentes eleições parciais na região Sudoeste de Dublin, para o lugar deixado vago no parlamento por um deputado do partido do governo (Fine Gael) que foi eleito para o Parlamento Europeu.

O socialista Paul Murphy, membro da Aliança Anti-Austeridade, venceu o escrutínio, depois de ao longo da campanha ter apelado ao não pagamento da futura taxa da água.

Também o candidato do Sinn Féin estava entre os favoritos, tendo falhado a eleição de mais um representante por apenas 600 votos.

Rejeição maioritária

Todavia, mais expressivo foi o facto de que 57 por cento dos eleitores votaram em candidatos que se opõem à taxa da água, e apenas 17 por cento apoiaram os partidos da coligação governamental.

É pois com fundamento que esta eleição foi considerada como um referendo sobre a taxação da água pretendida pelo governo de Eamonn Maloney.

O protesto em Dublin foi convocado pelo movimento Right2Water (Direito à Água) e pela Aliança Anti-Austeridade, em que participam os sindicatos Unite, Mandate e CPSU (serviços púbicos), bem como o Sinn Féin, o Partido Socialista, o Partido Socialista dos Trabalhadores e o Partido dos Trabalhadores.

Com eleições gerais dentro de 18 meses, a grandiosa manifestação foi uma demonstração de força dos movimentos e partidos que combatem as políticas de empobrecimento, e um mau presságio para os partidos do governo que as têm aplicado.




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