Moçambique constrói o futuro

Carlos Lopes Pereira

Moçambique prepara-se para ir às urnas a 15 de Outubro, em eleições cruciais para o futuro daquele país da África Oriental. A campanha eleitoral começou no domingo e decorre de forma ordeira.

Com 25 milhões de habitantes e enormes recursos naturais – condições para agricultura, pesca e turismo e reservas de carvão e gás natural –, Moçambique é um dos países africanos com maior taxa de crescimento (7% do PIB em 2013 e previsão de 8% em 2014). Por quem e como vai ser gerido este potencial económico, de que modo será redistribuída a riqueza criada, eis interrogações que contribuem para a importância destas quintas eleições gerais em 39 anos de independência.

Os moçambicanos vão eleger o presidente da República, deputados ao parlamento e membros das assembleias provinciais. A Frelimo, no poder desde 1975 e vencedora das votações anteriores, a Renamo e o MDM são as principais forças políticas e as únicas que apresentam candidatos presidenciais.

A Frelimo concorre à chefia do Estado com Filipe Nyusi, ministro da Defesa, a Renamo com o seu chefe, Afonso Dhlakama, e o MDM com o líder Daviz Simango, autarca da Beira.

Armando Guebuza, presidente da Frelimo e da República há 10 anos, não pôde recandidatar-se por já ter cumprido dois mandatos. Mas, em discurso recente, perante a Assembleia da República, o presidente cessante fez um balanço positivo desta década de governação. Elencou 10 desafios que estão a ser ganhos: a elevação da auto-estima do moçambicano; a consolidação da unidade da nação, da paz e da reconciliação nacional; a formação de quadros; a luta contra a fome e a doença; a promoção do bem-estar da juventude; o combate aos obstáculos ao desenvolvimento; a construção e reabilitação de infra-estruturas sociais e económicas; o ordenamento do território; o reforço da democracia; e o alargar da cooperação internacional.

«O povo não come recursos minerais»

A cidade de Nampula, no Norte, capital da província do mesmo nome e o maior círculo eleitoral do país, foi escolhida pela Frelimo para o arranque da campanha. Guebuza enalteceu a unidade nacional que importa preservar «do Rovuma a Maputo», apelou à paz e ao diálogo, prometeu que uma nova vitória do seu partido garantirá mais desenvolvimento de Moçambique.

Já Nyusi falou de «mudanças e esperança» para os moçambicanos, do seu programa de governação que aposta no desenvolvimento da agricultura («o carvão e o gás não se comem, o povo não come recursos minerais»), na criação de mais postos de trabalho para os jovens, na melhoria do sistema de saúde e na educação com qualidade. «Temos de construir uma nação de justiça social», vincou o candidato da Frelimo.

Também o líder do MDM escolheu Nampula para o arranque da campanha eleitoral. Quanto a Dhlakama, continua «em parte incerta», na serra da Gorongosa, onde se refugiou há vários meses.

A Renamo e o governo de Maputo assinaram um acordo de cessação de hostilidades, após complexas negociações, e existe a expectativa de um encontro, na capital, entre Guebuza e Dhlakama.

Há mais de dois anos que homens armados da Renamo levavam a cabo, nas províncias de Sofala e Manica, ataques contra colunas militares e alvos civis, provocando dezenas de mortos, centenas de feridos, património destruído e a deslocação de milhares de habitantes. Com este golpe de força, Dhlakama e seus generais exigiam alterações nas leis eleitorais, a integração dos seus homens no exército e na polícia, a «despartidarização do aparelho de Estado» e maior participação na exploração dos recursos minerais.

Antes disso, entre 1976 e 1992, a Renamo, criada pela Rodésia racista e, depois, armada e financiada pelo regime do «apartheid» da África do Sul, travou contra Moçambique uma sangrenta guerra civil que causou um milhão de vítimas e danos materiais incalculáveis.

A paz chegou em 1992, em Roma. A Renamo assumiu-se como partido político, de direita – um dos conselheiros de Dhlakama era na altura e ainda continua a ser um certo Jaime Nogueira Pinto, empresário e «académico» português que não esconde as suas simpatias pelo salazarismo. Dhlakama deu-se mal com o regime democrático, perdeu os escrutínios em que participou e nunca entregou as armas, que agora voltou a empunhar.

Após o longo caminho percorrido, Moçambique trabalha para que as eleições de 15 de Outubro decorram com normalidade, com a aceitação geral dos resultados saídos das urnas. E para que o povo possa prosseguir, em paz, a construção de um país unido, próspero e justo, onde a riqueza criada a todos beneficie.



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