Entalados pelo BES
A Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas (CPPME) alertou para os reflexos preocupantes da gestão danosa do BES e do GES na vida, já muito difícil, das MPME.
«Consequências nefastas para a economia nacional»
Para ilustrar a situação, a CPPME avançou com dois exemplos paradigmáticos que ilustram a total ausência de princípios éticos do capital, e dos poderes que o suportam, na relação que estabelecem com a micro e a pequena unidade económica.
«Efectivamente, foi possível que uma micro empresa, a quem o Banco Espírito Santo (BES) concedeu, contra garantias, a abertura de uma conta corrente caucionada de 20 mil euros, e a uma outra, que sendo pequena, tem uma conta corrente caucionada em outro banco, tenham sido, cada uma por si, aliciadas para investirem as verbas disponíveis no aumento de capital a que o BES, então, procedia, sob as bênçãos, não do espírito santo, mas sim, dos testemunhos de solidez e risonha expectativas de gerar rentáveis negócios no futuro, que, solene, empenhada e afanosamente, o Governo e o Banco de Portugal, atribuíram, com estranha oportunidade, ao BES», descreve a Confederação, numa carta endereçada ao primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho.
Entretanto, concluído o aumento de capital do BES, o Banco de Portugal pôde, apressadamente, anunciar que as acções passavam a valer zero, mas a obrigação de pagamento das contas correntes caucionadas, obviamente, se manteria. Segundo a CPPME, «as pequenas e grandes empresas, accionistas das empresas cotadas na bolsa, correm sempre o risco de perder ou ganhar em função da evolução dessas empresas». No entanto, «não é licito que aos investidores accionistas de uma empresa lhes seja dito, sem que exista falência declarada, que perderam tudo o que aplicaram, retirando-lhe o activo e deixando-lhe o passivo».
Impunidade
Neste lusitano processo, a Comissão do Mercado de Valores Imobiliários (CMVM) disse haver indícios de ter existido informação privilegiada aos grandes accionistas, o que terá permitido tomar medidas para minorar as perdas. No entanto, aos pequenos accionistas essa informação não chegou.
«Entalados, pela impunidade dos poderosos, ficarão muitos milhares de pequenos empresários, que, à mercê de todos os reflexos negativos consequentes, dificilmente poderão resistir a uma morte anunciada», denuncia a Confederação, criticando a «bizarra» medida do Banco Novo e do Banco Mau, que trará, previsivelmente, «consequências nefastas para a economia nacional».