Os dados do desemprego em Maio de 2014

Milagre escondido com o rabo de fora

José Alberto Lourenço

Nos primeiros dias de cada mês o Eurostat divulga as suas estimativas mensais sobre o desemprego e as taxas de desemprego referentes ao mês n-2 em cada um dos países da União Europeia. A 1 de Julho divulgou as suas estimativas referentes a Maio passado próximo.

Portugal será um exemplo concreto de como é possível fazer baixar a taxa de desemprego sem que o emprego suba

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Embora a Comunicação Social faça sistematicamente um grande alarido em torno destes dados como se eles fossem algo de novo e com credibilidade acrescida, com origem em informação recolhida e tratada pelo próprio Eurostat, a verdade é que estas estimativas mensais têm sempre por base os resultados do último Inquérito Trimestral ao Emprego combinados com os dados dos desempregados inscritos nos Centros de Emprego através de um modelo de previsão (modelo de CHOW LIN). Diga-se, aliás, que actualmente, apenas no caso português, se calcula esta estimativa da taxa de desemprego recorrendo para além dos resultados do último Inquérito Trimestral ao Emprego aos dados mensais dos desempregados inscritos nos Centros de Emprego.

É o próprio Eurostat nos seus últimos documentos metodológicos sobre o cálculo destas estimativas que manifesta o seu desejo de que haja uma uniformização entre todos os países no cálculo destas estimativas mensais da taxa de desemprego. Não por acaso o próprio Instituto Nacional de Estatística no seu plano de actividades para este ano prometeu: «.. o início da disponibilização de estimativas mensais nacionais para a taxa de desemprego, em articulação com o Eurostat, com base numa metodologia mais adequada, pretendendo-se, assim, dar resposta a uma necessidade há muito sentida pelos utilizadores e que permitirá um acompanhamento da evolução do mercado de trabalho com base em informação mais frequente e estável». De uma forma muito delicada percebe-se a desconfiança do INE em relação à qualidade dos dados divulgados mensalmente pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) referentes ao número de desempregados inscritos nos Centros de Emprego. Esperamos pois que ainda este ano o INE proceda à divulgação das estimativas mensais sobre a taxa de desemprego e a partir daí passemos a ter como uma única fonte informativa para o cálculo da taxa de desemprego mensal a entidade estatística nacional, deixando o Governo, através da manipulação do número de desempregados inscritos nos Centros de Emprego, de influenciar o seu cálculo.

Posto isto e tendo em conta que no debate da Nação o primeiro-ministro e os partidos do Governo se vangloriaram dos resultados do desemprego divulgados pelo Eurostat. Importa referir o seguinte:

De acordo com os dados mensais do Eurostat divulgados a 1 de Julho estavam desempregados em Maio do ano passado 881 mil portugueses, o que correspondia a uma taxa de desemprego de 16,9%, e estavam desempregados em Maio deste ano 736 mil desempregados, o que corresponde a uma taxa de desemprego de 14,3%. Entre Maio do ano passado e Maio deste ano desapareceram dos dados do desemprego do Eurostat 145 mil portugueses, mas o emprego criado neste período é praticamente nulo.

Entretanto, dados divulgados no passado dia 16 de Junho referentes à população residente no nosso País dizem-nos que nos últimos três anos saíram do País 350 504 portugueses, um dos maiores êxodos de sempre, e que em termos anuais assistimos no ano passado ao maior volume de emigração – saíram 128 108 portugueses.

Entretanto dados divulgados pelo IEFP referentes ao passado mês de Maio dizem-nos que neste mês estavam colocados em programas de emprego e formação profissional 174 031 trabalhadores, o mais elevado número de sempre de colocados nestes programas e mais 67 048 do que em Maio do ano passado.

Somando aqueles que foram forçados a emigrar neste período com o acréscimo do número daqueles que foram enviados para os programas de emprego e formação profissional, facilmente se percebe como se fez este milagre da taxa de desemprego baixar. Mais grave ainda, o somatório destes números prova-nos que ao contrário daquilo que este Governo (PSD/CDS) e os partidos que o suportam afirmam a taxa de desemprego real é hoje mais elevada do que há um ano.

No limite, se a sangria de trabalhadores portugueses para o estrangeiro se mantiver e se aqueles que caírem no desemprego continuarem a ser enviados para programas de emprego e formação profissional, o nosso País passará a ser um caso de estudo mundial. Portugal será um exemplo concreto de como é possível fazer baixar a taxa de desemprego sem que o emprego suba. Um verdadeiro milagre da multiplicação dos pães, que não dá de comer aos trabalhadores desempregados mas enche a barriga aos patrões.

 

Os gráficos que aqui se reproduzem contêm a informação em que se baseia a análise feita e complementam o que atrás foi referido.

 

Gráfico 1

Fonte: Dados mensais do IEFP

 

Gráfico 2

Fonte: Estimativas da População Residente em Portugal em 2013 (INE);

 



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