Resultados contestados
Milhares de pessoas contestaram junto ao Supremo Tribunal Eleitoral a vitória do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) nas eleições municipais de domingo, na sequência da qual o primeiro-ministro aproveitou para prometer «ajustar contas» com os seus inimigos.
Erdogan promete perseguir os seus inimigos
O protesto realizado em Ancara foi reprimido pela polícia, que usou canhões de água e granadas de gás lacrimogéneo para dispersar a multidão, a qual denunciou irregularidades no escrutínio, particularmente na capital, onde o Partido Republicano do Povo (CHP) entregou, entretanto, um pedido formal de recontagem dos votos. Queixa idêntica foi entregue pelo CHP em relação à consulta em Istambul, noticiou a Lusa.
De acordo com a Russia Today, que também cita meios de comunicação locais, muitos manifestantes exibiram provas da fraude, nomeadamente cópias das actas eleitorais que, garantem, apresentam discrepâncias face aos resultados oficiais divulgados pelo tribunal.
No domingo, perante milhares de apoiantes do AKP reunidos em Ancara para festejarem a vitória nas eleições municipais, o primeiro-ministro da Turquia garantiu que vai perseguir os seus inimigos «até aos seus esconderijos» e fazê-los «pagar o preço». Recep Erdogan reiterou a promessa, feita durante a campanha, de «ajustar contas» com os partidários do clérigo Fatullah Güll, que o chefe do governo turco qualifica de traidores.
Na consulta, o AKP, no poder desde 2002, conquistou 45,5 por cento dos votos contra 27,9 por cento alcançados pelo principal partido da oposição, o CHP, e manteve posições dominantes nas principais cidades do país. A Acção Nacionalista, com 15,2 por cento, e o Partido para a Paz e a Democracia, como 6,3 por cento, ficaram entre as quatro formações mais votadas num sufrágio que terminou com um saldo de oito mortos e 17 feridos, resultantes de confrontos entre apoiantes e contestatários do poder.
Para além do reforço da retórica agressiva, Erdogan e o AKP podem usar o triunfo nas urnas para incrementarem as medidas repressivas cujo objectivo é calar os que exigem a sua demissão – impondo restrições no acesso à Internet e às redes sociais em especial, atacando e criminalizando as movimentações de massas, como as ocorridas no Verão passado –, e prosseguirem, com revigorada confiança, a purga no aparelho judicial e policial, pontos nodais das investigações aos escândalos de corrupção em que Erdogan, os seus mais próximos e o seu partido estão envolvidos.
O ditador será derrotado
Reagindo aos resultados, o comité central do Partido Comunista da Turquia (TKP) apelou ao povo para «não sucumbir» e continuar o combate político de massas contra o ditador que pretende impor o fascismo no país.
Reconhecendo que as forças de esquerda, progressistas e democráticas estão ainda longe de constituírem uma alternativa ao AKP, o TKP salientou, porém, a vitória alcançada pelo partido em Ovacik, na província de Tunceli, sob a bandeira da Federação Democrática do Povo.