Realização maior de Abril
Mais de 150 pessoas participaram, dia 9, em Montemor-o-Novo, numa sessão evocativa da Reforma Agrária, uma das mais belas conquistas da Revolução de Abril.
Resposta imperiosa à sabotagem económica dos agrários
A iniciativa teve lugar no salão da Junta de Freguesia da Vila, em Montemor-o-Novo, e foi presidida por José Baguinho, da Cooperativa Cultural Alentejana, João Proença, da Casa do Alentejo, Celestina Brasileiro, da Agro-Alpiarça, e Abílio Fernandes, da Associação Povo Alentejano, organizações promotoras das comemorações da Reforma Agrária nos 40 anos do 25 de Abril. Na mesa estiveram ainda os presidentes da Câmara de Montemor-o-Novo e da Junta de Freguesia da União de Freguesias de Nossa Senhora da Vila, Nossa Senhora do Bispo e Silveiras.
Durante a sessão ocorreram testemunhos muito emotivos de protagonistas da Reforma Agrária, designadamente de Fernando Oliveira Baptista, ministro dos V e VI governos provisórios; José Soeiro, fundador e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Agrícolas do Distrito de Beja no período da Reforma Agrária; Manuel Vicente, dirigente naquele período do Sindicato dos Trabalhadores Agrícolas do Distrito de Évora; Manuel Brás, que foi presidente da Assembleia Geral da UCP/Cooperativa Vasco Gonçalves e dirigente do Sindicato dos Trabalhadores Agrícolas de Santarém; e Maria Leonor Xavier, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores Agrícolas do Distrito de Portalegre.
Em Montemor-o-Novo foi ainda apresentado o Manifesto «Reforma Agrária. Realização maior de Abril. Necessidade do nosso tempo», já subscrito por várias centenas de pessoas e instituições. «A Reforma Agrária foi uma medida indispensável à defesa do 25 de Abril e da jovem democracia em construção, uma resposta imperiosa à sabotagem económica dos agrários que, nos meses posteriores a 25 de Abril de 1974, não se conformando com a liberdade e os direitos conquistados pelos trabalhadores, abandonaram culturas, desfizeram-se de gados, incendiaram searas, destruíram azeitona, retiraram e venderam maquinaria agrícola, provocando mais desemprego e fome na região», refere o documento, onde se denuncia também a «criminosa política de direita» que destruiu a Reforma Agrária, da responsabilidade de sucessivos governos e maiorias parlamentares do PS, PSD e CDS, na aprovação e concretização da famigerada Lei Barreto/PS (Lei 77/77) e da Lei do Latifúndio/Cavaco Silva/PSD (Lei 109/88).
No final interveio Abílio Fernandes, que sublinhou a importância e a necessidade de uma nova Reforma Agrária que «ponha a terra novamente a produzir, a criar riqueza nacional, a tirar o País da dependência alimentar do exterior, melhorando a balança comercial e a situação económica geral do País».